Marcelo Dilla (*)
Com toda certeza, Minas é o local mais “assombrado” do Brasil e não é à toa que 75% do patrimônio histórico nacional, esteja em nosso Estado. Acho eu, com as minhas deduções, que há um motivo lógico para essas inúmeras histórias de assombrações mineiras.
Minas Gerais a partir do final do Século 17 se tornou a “menina dos olhos” da coroa portuguesa, devido à sua imensa riqueza mineral, com destaque para o ouro e o diamante. A procura dessas riquezas tornou-se uma verdadeira “corrida do ouro”, tanto para Portugal, para os “senhores” de terras daquela época, como também para outros aventureiros.
As notícias da possibilidade de se tornar rico, atraía todo o tipo de pessoas, tanto de Minas, como de outros estados e até de outros países. Assim, a coroa portuguesa logo intensificou seu “policiamento” nas áreas de exploração e ainda taxou com altos impostos a comercialização do ouro e pedras preciosas.
Mesmo assim, o suposto percentual de desvio ou mesmo de roubo de pedras preciosas era alto, quase 30%. Isso fez com que fosse criado, em 1775, o Regimento Regular de Cavalaria de Minas, no Distrito de Cachoeira do Campo, município de Ouro Preto. Seu objetivo era policiar e tentar controlar a comercialização das pedras preciosas (lembrando que este “regimento” se tornaria no futuro a gloriosa Polícia Militar de Minas Gerais, a instituição policial-militar mais antiga do Brasil). No entanto, nem mesmo o Regimento de Cavalaria de Minas conseguia evitar o “desvios de pedras preciosas”, ocorridos normalmente à noite.
Assim, as histórias de fantasmas e outros seres exóticos do nosso folclore possivelmente surgiram nessa época, aproveitando a grande mistura de etnias em Minas, que reunia estrangeiros, brasileiros de várias regiões, nativos mineiros, índios e negros. E cada um desses grupos tinha sua religiosidade ou crença própria.
A história de uma possível assombração daquela época, seria como uma fake news dos dias de hoje. Ao invés de passar de celular para celular, circulava de boca-a-boca em todos os locais. Alguns dos fantasmas mais antigos das Minas Gerais surgiram em Ouro Preto, como “Chico Rei” (o fantasma das minas de ouro) e a “Mulher da Rua Direita”, de Mariana. Acredito, que isso possa ter sido criado e usado para tentar diminuir o tráfico noturno das pedras preciosas.
(Mas repito, é apenas uma suposição minha).
Contudo depois de dois séculos, independentemente das pedras preciosas, nosso Estado continuou criando assombrações em quase todas as suas regiões, como por exemplo: “os fantasmas da procissão das almas”, de Sabará; “o Lobisomem”, do Jequitinhonha; “Caboclo D’água”, do Rio São Francisco; a “Luzinha da Quaresma”, de Entre Rios de Minas; a “Loura da Bicicleta”, de Ipatinga; e ainda, três famosos personagens da capital mineira: “A Loira do Bonfim”, a “Maria Papuda” e o “Capeta do Vilarinho”.
É claro que em Minas Gerais há ainda inúmeros casos famosos de fantasmas, mas resolvi citar só estes aqui. Afinal, não podemos assustar os nossos turistas, como fizeram os soldados do Regimento de Cavalaria de Minas há 240 anos, com os garimpeiros, comerciantes e ladrões daquela época.
Só rindo…
(*) Marcelo Dilla é cronista, guitarrista e vocalista da banda Creedence Cover