Marcelo Dilla (*)
Em 1881, D. Pedro II inaugurou a tão esperada Estrada de Ferro Bahia-Minas. A ferrovia ia de Araçuaí (MG) até Ponta de Areia (BA), numa extensão de 570 kms, dos quais, 150 kms eram na Bahia. Para conseguir financiamento para a construção, os “investidores” pediram 6 km de terra, de cada lado da ferrovia (como se fazia nas ferrovias dos EUA daquela época).
Após a Proclamação da República, a ferrovia foi perdendo a sua importância e, em 1910, os investidores pediram o ressarcimento financeiro da obra. Minas Gerais pagou a sua parte, mas o governo baiano não.
Com receio de perder investimentos futuros em seu Estado, o Governo da Bahia então aceitou que Minas Gerais comprasse a parte baiana (por 300 contos de réis), o que correspondia a uma faixa de terra de 142 kms de extensão por 12 kms de largura até o litoral. Desta forma, Minas Gerais teria enfim o seu acesso ao mar, compreendido a uma pequena área litorânea, entre as cidades de Caravelas e Ponta de Areia.
Porém o com o passar do tempo, o governo baiano nunca se prontificou a entregar oficialmente a parte ‘devida’ a Minas Gerais. Enquanto isso, os mapas do Brasil saíam com aquela região demarcada como “área de litígio”.
O tempo foi passando e, em 1966, o Governo Federal resolveu desativar a ferrovia em questão. Nessa época, Fernando Brant trabalhava como jornalista e como um “bom mineiro” que sempre foi, resolveu levantar novamente essa questão. Em 1973, a famosa revista “O Cruzeiro”, fez uma matéria nacional sobre o assunto e ninguém do governo baiano e nem do mineiro se manifestou – provavelmente, pela situação política delicada em que o país enfrentava.
Ainda assim, dois anos depois, o nosso poeta e compositor não se abateu. Fernando Brant escreveu uma de suas mais belas canções, musicada em parceria com Milton Nascimento: “Ponta de Areia”. A composição é um lamento e faz uma profunda reflexão quanto a esse investimento ferroviário mal sucedido da história de Minas Gerais.
No final dos anos 80, houve uma nova tentativa de “negociação” com o governo baiano. Por incrível que pareça, o governador de Minas à época, Newton Cardoso, não demonstrou nenhum interesse em resolver esta questão, até mesmo porque, ele era baiano.
Em 2018, chegou-se a cogitar que o assunto seria pautado na Assembleia Legislativa mineira. No entanto, ao que parece, que já não se fazem deputados como antigamente.
E hoje, em memória ao nosso compositor e mestre Fernando Brant, trago de volta à tona essa questão. Se o Brasil nunca deu certo, a culpa não é de Minas Gerais.
Queremos a fatiazinha de litoral que nos é devida!
(*) Marcelo Dilla é cronista, vocalista e guitarrista da banda Creedence Cover Brasil