Por Sergio Leite (*)
Há alguns meses, realizamos, Denise e eu, por um período de duas semanas, a minha 6ª Viagem de Estudos dos Vinhos Brasileiros no Vale dos Vinhedos, no Rio Grande do Sul (para a Denise era a segunda viagem), nas últimas três décadas. O Vale dos Vinhedos, é a única região produtora de Vinhos do Brasil com a Denominação de Origem Controlada (DOC). É um lugar maravilhoso!
Foram 3.350 km percorridos de carro, 15 vinícolas visitadas, mais de 100 rótulos degustados e mais de 100 garrafas adquiridas de vinho brasileiro de alta qualidade. Foram momentos inesquecíveis, desfrutados numa linda região, onde nos hospedamos no SPA do Vinho, excelente hotel em meio às videiras, degustando vinhos e aprendendo bastante sobre a enologia brasileira.
A Região do Vale dos Vinhedos possui cerca de 80 produtores, a grande maioria “vinícolas boutiques”, com a produção total entre 30 mil a 300 mil garrafas por ano. Uma grande vinícola, a nível mundial, produz no mínimo 40 milhões de garrafas por ano. Entretanto, no Brasil, as maiores vinícolas produzem de 10 a 15 milhões de garrafas por ano.
Nesta sexta viagem, pudemos constatar uma significativa evolução desde a década de 90, com vinícolas modernas, atualizadas tecnologicamente e com espaços muito acolhedores.
O QUE RECOMENDAMOS
Neste contexto, como enófilos, Denise e eu elegemos 12 vinhos tinto de alta qualidade produzidos no Vale dos Vinhedos, abaixo listados em ordem de nossa preferência:
1. Luiz Valduga, da Vinícola Casa Valduga.
2. Sesmarias, da Vinícola Miolo.
3. Remy Valduga, da Vinícola Torcello.
4. Storia, da Vinícola Casa Valduga.
5. Perfetto, da Vinícola Torcello.
6. Parte 2, da Vinícola Almaúnica.
7. Tannat, da Vinícola Lídio Carraro.
8. Kairos, da Vinícola Lídio Carraro.
9. Lote 43, da Vinícola Miolo.
10. Septimum, da Vinícola Salton.
11. Teroldego, da Vinícola Angheben.
12. S8, da Vinícola Almaúnica.
NOSSAS AVALIAÇÕES
A seguir, apresentamos nossas observações em relação à qualidade, logística, produção, preço e satisfação
Qualidade
O Brasil, nos últimos 30 anos, evoluiu consideravelmente na produção de vinhos de alta qualidade. No que se refere a espumantes, já produzimos dezenas de rótulos com qualidade a nível mundial. Nossa evolução na produção de vinhos brancos nos permitiu exibir rótulos de muito boa qualidade. Mas, o nosso foco nesta viagem foram os vinhos tinto.
Não concordamos com a afirmação de que não produzimos bons vinhos tintos. Isso não reflete a realidade. Após 30 anos de estudos, experimentos e permanente evolução tecnológica, o Brasil hoje produz dezenas de boas marcas de tintos.
Nossos vinhos se posicionam entre os melhores tintos do Novo Mundo, com nível de qualidade no mesmo patamar, por exemplo, dos argentinos, chilenos e australianos. Nosso desafio, para as próximas décadas, é atingir a excelência dos franceses, italianos, portugueses e espanhóis.
Logística
O Brasil também precisa desenvolver uma estrutura logística para abastecimento do mercado interno. É fundamental conquistar os consumidores brasileiros que, passando a desfrutar e admirar os nossos tintos, vão ajudar a promove-los mundo afora.
Produção
E nossas vinícolas precisam, sem dúvida, aumentar a produção para, numa primeira fase, abastecer o Brasil e depois, partir para expansão das exportações no mercado internacional. Nossa escala de produção ainda é muito baixa, concentrada em “vinícolas boutiques”.
Preço
A questão do custo/benefício é muito destacada como um ponto negativo dos vinhos brasileiros. Com a desvalorização de cerca de 30 % do real frente ao dólar, em 2020, isso foi solucionado, tornando nossos produtos mais competitivos.
Satisfação
Nossos vinhos tintos de alta qualidade estão à nossa disposição para nós proporcionar prazer nos momentos de degustação: a busca do conhecimento, a escolha e aquisição, a guarda na adega e beber com os amigos. junto à boa gastronomia.
Vamos em frente, desfrutar a vida!
(*) Sergio Leite é presidente da Usiminas e apreciador de um bom vinho