A possibilidade da queda das barreiras comerciais entre Estados Unidos e União Europeia para os produtos siderúrgicos pode beneficiar o Brasil. Isso porque o país está enquadrado em um sistema de cotas para os EUA desde 2018, quando o então presidente Donald Trump editou a Seção 232 para proteger as siderúrgicas daquele país e reduziu as exportações brasileiras.
Com isso, as empresas brasileiras, as maiores exportadoras de semi-acabados para o mercado americano, tiveram cota de 3,5 milhões de toneladas por ano. Em 2017, o último ano sem essa trava, foram exportadas 4,7 milhões de toneladas de produtos siderúrgicos para os EUA.
“Os EUA não são autossuficientes na produção de aço e precisam importar, principalmente, semi-acabados. O Brasil é o maior fornecedor. Agora que o presidente Joe Biden anunciou programa de investimentos em infraestrutura de US$ 3 trilhões, vão precisar de aço brasileiro”, disse o presidente executivo do Instituto Aço Brasil, Marco Polo Mello Lopes.
Segundo o dirigente, o Brasil exporta, atualmente, US$ 2,3 bilhões em produtos siderúrgicos para o mercado americano, sendo 85% de semi-acabados, e importa US$ 1 bilhão em carvão metalúrgico do país, o que gera uma corrente de comércio de US$ 3,3 bilhões por ano.
“Já estávamos conversando com o Ministério das Relações Exteriores para mostrarmos, em uma nova missão, a importância estratégica do Brasil. E agora isso ganha uma dimensão maior com essa possibilidade dos EUA flexibilizarem as salvaguardas.”
Os Estados Unidos e a União Europeia iniciaram as discussões para resolver um conflito sobre as importações de aço e alumínio. O tema foi uma frente importante nas guerras comerciais do governo Trump e um sério fardo nas relações comerciais.
As negociações são parte de um esforço do governo Biden para reconstruir as relações entre os EUA e a Europa depois que o governo Trump tratou o bloco como um adversário, citando a segurança nacional como justificativa para cobrar tarifas de 25% sobre as importações de aço europeu e de 10% sobre alumínio.
Mello Lopes ressaltou que além das negociações para retirar as travas comerciais sobre produtos siderúrgicos, o Aço Brasil já tenta resolver o excedente da cota do último trimestre do ano passado que não foi exportado para o mercado americano. Pela regra, os embarques são divididos por trimestre, sendo 30% do volume nos nove meses e o restante em outubro, novembro e dezembro.
Segundo o dirigente, em 2020, no entanto, com a crise sanitária mundial, as siderúrgicas americanas ficaram com capacidade ociosa e tiveram prioridades, o que reduziu as importações do Brasil. Dessa forma, no último trimestre foram embarcadas 100 mil toneladas, ao invés de 309 mil toneladas de produtos siderúrgicos como o acordado.
“As usinas brasileiras tiveram seu mercado reduzido por causa dessa priorização do aço americano. Então, acreditamos que esse volume possa ser adicionado à cota do segundo trimestre ou nos próximos. Essa cota nos é de direito”, ressaltou Mello Lopes.
Fonte: Valor Econômico