O leite materno é o primeiro alimento que recebemos ao nascer. E, por isso, também é o mais importante. Não por acaso a campanha Agosto Dourado – dedicada à intensificação das ações de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno – leva esse nome.
O “alimento de ouro” é responsável pelo fornecimento de nutrientes essenciais para a imunidade e o desenvolvimento da criança. No entanto, amamentar não é uma responsabilidade exclusiva das lactantes. Em 2021, o tema da Semana Mundial do Aleitamento Materno (SMAM), comemorada no início deste mês, reforça que estimular a amamentação deve ser uma tarefa compartilhada com toda a sociedade.
A coordenadora do Banco de Leite Humano (BLH) da Maternidade Odete Valadares (MOV), Maria Hercília Barbosa, ressalta a necessidade de constituir uma rede de proteção em torno das mães.
“Cada um de nós tem um papel muito importante a cumprir na promoção do aleitamento materno. Família, vizinhos, profissionais de saúde, empresas e governos devem criar condições favoráveis para que a mulher possa amamentar seu bebê. A SMAM e o Agosto Dourado são iniciativas fundamentais para discutir e informar sobre a amamentação, além de estimular a doação de leite”, explica.
“Muitas mulheres deixam de amamentar por não terem essa rede de apoio. A amamentação é uma responsabilidade que envolve tanto a mãe e o bebê, quanto o seu contexto familiar, social e profissional”, afirma a nutricionista referência materno infantil da Maternidade do Hospital Júlia Kubitschek (HJK), Cristiane Ferreira de Andrade. Ela alerta que auxiliar a mulher nos cuidados com o bebê e com a casa, dar apoio emocional e afetivo, contribui para que a mãe possa se dedicar à amamentação e tenha sucesso nessa missão, que, na maioria dos casos, segue pela madrugada.
O ideal é que o leite materno seja o único alimento consumido pela criança até os seis meses, e, após essa idade, seja mantido até os dois anos ou mais. “Quanto mais tempo a mãe conseguir amamentar a criança, melhor. O leite materno é a base da vida. Além de ser riquíssimo em nutrientes, tem uma grande importância imunológica, aumenta o vínculo entre a mãe e o bebê, e atua no desenvolvimento neurocognitivo da criança”, explica a nutricionista.
DESAFIOS NO ALEITAMENTO
Em Belo Horizonte, o Banco de Leite Humano da MOV e o Posto de Coleta do HJK orientam mulheres com dificuldades na amamentação. Esses serviços atendem qualquer mãe que necessite de orientações, mediante agendamento. O Banco cumpre todos os protocolos sanitários de prevenção à covid-19.
A publicitária Lorena Mazzieiro, mãe de João Marcelo, de 4 meses, recorreu ao Banco de Leite Humano da MOV por conta de uma mastite. “Lá, recebi ajuda para ordenhar, o que auxiliou a drenar o seio. Como não estava conseguindo fazer com que o bebê mamasse no peito devido à inflamação, me ensinaram uma pega para que doesse menos e, assim, ele conseguiu esvaziar a mama. Voltei ao BLH no outro dia, fiz a ordenha mais uma vez, e já estava bem melhor”, diz.
Lorena afirma que não imaginava que o início da amamentação envolvesse tantos desafios e que receber orientação adequada torna o processo prazeroso. “A conexão que se estabelece ali, entre mãe e bebê, é emocionante demais. Dá pra ver que ele gosta muito. Com aleitamento exclusivo, hoje o João Marcelo já está com quase 7 kg e é muito saudável. É muito bom poder contar com um serviço gratuito e de tanta qualidade”, elogia.
Mesmo quem não é mãe de primeira viagem pode enfrentar desafios no aleitamento. A analista de recursos humanos Amanda Duarte, mãe do Murilo, de 5 anos, e do Augusto, de 2 meses, vivenciou essa situação. Com o primeiro filho, conseguiu manter a amamentação por apenas 30 dias, devido a uma mastite. Com o segundo, pensou que não haveria tanta dificuldade, mas, com 15 dias de vida do bebê, os problemas começaram a surgir.
“A enfermeira do BLH fez a avaliação e chegou à conclusão que a pega do Augusto estava errada, o que causou um calo no bico do seio. Ela me ensinou como posicioná-lo e pediu que eu retornasse em três dias. Com essa orientação, deu tudo certo e parei de sentir dor. Continuo amamentando e, para mim, isso tem um significado muito especial, já que amamentei pouco o Murilo”, afirma Amanda. Ela faz um alerta para outras mães. “Ao menor sinal de desconforto na amamentação, procure ajuda”.
INTERIOR
Nas maternidades dos hospitais regionais Antônio Dias (HRAD), em Patos de Minas, e João Penido (HRJP), em Juiz de Fora – também da Rede Fhemig – o incentivo à amamentação começa nos primeiros minutos de vida da criança, como explica a coordenadora da Comissão de Residência Médica (Coreme) e do Programa de Residência Médica em Ginecologia e Obstetrícia do HRAD, Adelaide Maria Ferreira Campos D’Avila. “Incentivamos a amamentação desde o nascimento do bebê. O processo é supervisionado por profissionais de enfermagem, medicina e fonoaudiologia”.
Segundo a médica, as fórmulas devem ser usadas apenas em casos com prescrição e justificativa pediátrica. Já os bicos são contraindicados, pois podem causar confusão no recém-nascido e rejeição ao seio da mãe. “Os bebês que têm dificuldade para amamentar só saem da maternidade depois que estiverem mamando com segurança e, então, passam a ser acompanhados pelos pediatras nas unidades básicas de saúde. As mães seguem monitoradas no Ambulatório de Egressos, onde recebem ajuda para que não desistam da amamentação”, afirma Adelaide.
A maternidade Viva Vida, do HRJP, por sua vez, conta com Posto de Coleta, que atende todas as mulheres que deram à luz na unidade, além das puérperas, cujos bebês foram encaminhados à Unidade de Terapia Intensiva Neonatal. “Ainda no leito, a mãe recebe instruções de como posicionar o recém-nascido. A amamentação é avaliada diariamente por nossos profissionais. No caso das mães de bebês prematuros ou que nasceram com alguma intercorrência – estejam elas de alta ou alojadas na Casa da Gestante – a técnica de ordenha é ensinada para que o leite seja destinado à criança na UTI Neo. E todas podem retornar ao posto de coleta em caso de dúvidas ou dificuldades na amamentação”, explica a coordenadora da maternidade, Ana Carolina Mattos Medeiros.
De acordo com a profissional, nascer em uma unidade que estimula a amamentação desde a sala de parto é de extrema importância para o sucesso do aleitamento materno. “Amamentar é mais do que nutrir. Tem repercussões importantes na saúde física e emocional do binômio mãe-filho. Por isso, o apoio e o acolhimento da equipe hospitalar, além da disponibilização de informações corretas, são imprescindíveis. A mãe precisa se sentir capaz e apoiada em suas decisões, depois de informada dos benefícios da amamentação. Uma mulher confiante e que recebe apoio se sente capaz de seguir amamentando”, conclui.