Por Sergio Leite
O crescimento do país é essencial para o bem estar das pessoas. Não podemos, porém, nos contentar com índices ainda tão aquém do potencial da indústria, do agronegócio e de tantos outros segmentos da nossa economia.
O Brasil enfrenta, nos anos 2000, preocupante processo de desindustrialização.
A indústria de transformação nacional se consolidou na segunda metade do século passado como uma importante geradora de vagas de trabalho de alta qualificação, com melhores remunerações e uma participação na formação do PIB que se reduziu de um patamar superior a 25% para cerca de 10% nas últimas décadas, com forte impacto na geração de empregos e bem estar para as pessoas.
E por que a indústria nacional perdeu e continua perdendo espaço? Por uma série de fatores, especialmente pelos aspectos estruturais que fazem com que o chamado custo Brasil impacte fortemente nossa competitividade e o nosso desenvolvimento. Nesse sentido, temos desafios de várias naturezas, como questões de tributação, burocracia, infraestrutura logística e tantos outros.
Além do custo Brasil, novos desafios são colocados com o passar do tempo. Soma-se a ele o forte protecionismo em escala mundial que marca as grandes economias, a pandemia e, mais recentemente, o conflito entre Rússia e Ucrânia, dois importantes players da economia globalizada.
Hoje, a indústria do aço, para ficar no setor no qual atuo há mais de 45 anos, trabalha com uma capacidade ociosa, conforme o Instituto Aço Brasil, superior a 30%. O consumo de aço no país segue muito aquém do potencial. Segundo o mesmo Instituto, de 1980 a 2021, o consumo interno passou de 100,6 em 1980 para 122,3 quilos por habitante em 2021. Já a China, no mesmo período, teve um crescimento de 32 para 666,5 quilos por habitante/ano.
Embora as dificuldades antecedam à pandemia, ela agravou a situação, com a indústria de transformação acumulando expressiva queda de produção na última década.
Precisamos nos mobilizar pela reindustrialização do Brasil, já que tivemos uma industrialização tardia e uma desindustrialização prematura. O enfraquecimento da nossa indústria vem se refletindo em menos emprego e muitas vezes fuga de mão de obra qualificada para outros países.
À parte todos os grandes desafios que temos pela frente, a indústria brasileira, em sua grande maioria, é muito competitiva nos intramuros. Por isso mesmo, acredito na nossa imensa capacidade de vencer esses obstáculos e de gerar, cada vez mais, valor para toda a sociedade brasileira.
* Sergio Leite é presidente do Conselho de Administração da Usiminas e vice-presidente do Conselho Diretor do Instituto Aço brasil.