Por: William Argolo Saliba
O uso excessivo de smartphones por adolescentes e adultos jovens está relacionado a dificuldades na regulação cognitivo-emocional, impulsividade, função cognitiva prejudicada, vício em redes sociais, timidez e baixa autoestima, de acordo com uma recente revisão de literatura publicada na Frontiers in Psychiatry.
A análise, conduzida por Yehuda Wacks e Aviv Weinstein, do Departamento de Ciências Comportamentais da Universidade Ariel, em Israel, aponta ainda que a utilização constante dessas tecnologias causa problemas de saúde como distúrbios de sono, redução da aptidão física, hábitos alimentares não saudáveis, dores e enxaquecas, além de diminuição do controle cognitivo e alterações no volume da massa cinzenta cerebral.
Os pesquisadores realizaram uma ampla busca nas bases de dados PubMed Central e Web of Science, selecionando 84 estudos relevantes publicados em inglês até fevereiro de 2021. Os trabalhos indicam alta comorbidade entre o uso problemático de smartphones e transtornos psiquiátricos como depressão, ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) e abuso de álcool.
Além disso, os estudos revisados mostram relação com dificuldades na regulação de emoções, experiências de evitação, maus tratos emocionais na infância, problemas de imagem corporal e ansiedade social. Aspectos de personalidade como conscienciosidade, estabilidade emocional e neuroticismo (tendência a experimentar facilmente emoções negativas ante eventos comuns da vida) também aparecem como fatores de risco.
No âmbito cognitivo, usuários compulsivos demonstraram déficits nos mecanismos de controle inibitório, atenção prejudicada, redução da capacidade de processamento numérico e aumento da impulsividade ao realizar testes neuropsicológicos. Exames de imagem cerebral revelaram redução no volume da massa cinzenta em regiões como o córtex orbitofrontal lateral e o giro do cíngulo anterior.
“Embora possa haver pequenas diferenças entre alguns mecanismos e fatores de risco subjacentes aos vícios comportamentais online, como o uso de pornografia, o transtorno do jogo e o uso de redes sociais, a semelhança entre eles é muito forte”, concluem os autores. Eles ressaltam que o excesso de tempo de tela, incluindo computadores e smartphones, está associado a sérios problemas mentais e prejuízos cognitivos que merecem atenção de profissionais de saúde e educação.
Referência:
WACKS, Y.; WEINSTEIN, A.M. Excessive Smartphone Use Is Associated With Health Problems in Adolescents and Young Adults. Frontiers in Psychiatry, v. 12, 2021. DOI: 10.3389/fpsyt.2021.669042.
(*) William Argolo Saliba é professor universitário, mestre em Química, teólogo e terapeuta holístico, com livro e pesquisas publicadas internacionalmente