A persistência da seca histórica no Brasil poderá levar à manutenção da bandeira tarifária vermelha nas contas de energia elétrica nos próximos meses, segundo Sandoval Feitosa, diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Em entrevista ao Estadão/Broadcast, Feitosa indicou que há uma “grande tendência” de continuar com a bandeira vermelha, seja no patamar 1 ou 2, caso o período seco se prolongue.
A bandeira tarifária é um sistema que indica o custo real da geração de energia elétrica no país. Quando as condições de geração são desfavoráveis, como em períodos de seca, a bandeira vermelha é acionada, resultando em um acréscimo na conta de luz do consumidor.
Feitosa explicou que o cenário climático atual é preocupante, com 2023 sendo o ano mais quente da história e 2024 caminhando para superá-lo. Essas altas temperaturas podem levar a um maior deplecionamento dos reservatórios das hidrelétricas, principal fonte de energia do país.
O diretor-geral da Aneel também abordou o recente erro de cálculo que levou à revisão inédita da bandeira tarifária de vermelha 2 para vermelha 1. Segundo ele, o erro ocorreu devido à consideração duplicada de uma usina termelétrica nos cálculos. Feitosa garantiu que uma fiscalização está em andamento para evitar que erros semelhantes ocorram no futuro.
Apesar das perspectivas de manutenção da bandeira vermelha, Feitosa ressaltou que algumas medidas estão sendo tomadas para mitigar os impactos. Entre elas, destaca-se a aprovação da resposta da demanda, um mecanismo para conter o consumo nos horários de pico e evitar o despacho de termoelétricas mais caras.
Outro ponto positivo mencionado é a maior complementaridade de energias renováveis no sistema elétrico brasileiro, o que não existia em anos anteriores. Isso proporciona uma operação mais flexível e resiliente diante das variações climáticas.
Quanto à possibilidade de retorno do horário de verão, Feitosa esclareceu que a Aneel não participa diretamente dessas discussões, que são conduzidas pelo Ministério de Minas e Energia e pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). A decisão envolve não apenas aspectos técnicos, mas também considerações políticas relacionadas a setores como turismo, comércio e segurança pública.
O diretor-geral da Aneel enfatizou que o sistema de bandeiras tarifárias, implementado há quase uma década, trouxe benefícios como a educação para o uso eficiente de energia e a economia de juros para a população, estimada em mais de R$ 4 bilhões ao longo desse período.
Embora o cenário atual aponte para a manutenção de tarifas mais elevadas, Feitosa ressaltou que a situação ainda pode se alterar. O comportamento das chuvas nos próximos meses será crucial para determinar o cenário energético e, consequentemente, os custos para o consumidor.
A Aneel continuará monitorando de perto a situação hídrica e energética do país, buscando equilibrar a segurança do fornecimento com a modicidade tarifária. Os consumidores são orientados a adotar medidas de economia de energia para minimizar o impacto em suas contas de luz durante esse período desafiador.