Por Alice Costa (*)
Apesar de somar e subtrair serem operações básicas que todos aprendem na primeira série, o ato de planejar financeiramente o futuro vai muito além de simples cálculos matemáticos. O planejamento financeiro é, na verdade, uma questão profundamente comportamental, influenciada por fatores psicológicos, culturais e sociais que, muitas vezes, não são tão óbvios quanto a matemática elementar.
Uma das razões pelas quais os brasileiros têm dificuldade em se planejar financeiramente é a prevalência do imediatismo em nossa cultura. Vivemos em uma sociedade que valoriza o consumo instantâneo, onde o prazer e a gratificação imediata são altamente estimulados. Essa mentalidade de “viver o agora” está enraizada em muitos brasileiros, levando-os a priorizar o presente sobre o futuro. Mesmo que saibam que poupar é importante, o impulso de satisfazer necessidades e desejos imediatos frequentemente se sobrepõe à necessidade de economizar para imprevistos ou para a aposentadoria.
Outro aspecto comportamental relevante é o medo ou a aversão ao futuro incerto. Muitos brasileiros crescem em um ambiente de instabilidade econômica, o que pode gerar uma visão pessimista ou fatalista sobre o futuro. Quando o amanhã parece incerto ou ameaçador, é natural que as pessoas se concentrem mais em aproveitar o presente do que em planejar um futuro que não sabem ao certo como será. Esse comportamento, embora compreensível, cria uma barreira significativa para o planejamento financeiro.
Além disso, a falta de diálogo aberto sobre dinheiro dentro das famílias brasileiras contribui para essa dificuldade. Assuntos financeiros muitas vezes são vistos como tabu, o que impede a construção de um entendimento coletivo e saudável sobre a importância do planejamento financeiro. As gerações mais jovens, em particular, podem crescer sem exemplos positivos de como administrar o dinheiro, o que perpetua o ciclo de má gestão financeira.
Para finalizar, existe também uma questão de autoimagem e status social. Em uma sociedade onde o sucesso é frequentemente medido pela ostentação de bens materiais, muitos brasileiros se sentem pressionados a gastar mais do que podem para manter uma certa imagem perante os outros. Esse comportamento de “manter as aparências” não só impede a poupança como também leva ao endividamento, afastando ainda mais as pessoas da possibilidade de se planejar para o futuro.
Esses fatores comportamentais mostram que a dificuldade em planejar o futuro financeiramente não é uma questão de falta de habilidade para fazer contas, mas sim de como as pessoas percebem e se relacionam com o dinheiro. Para mudar esse cenário, é necessário ir além da simples educação financeira e abordar as questões culturais e psicológicas que influenciam o comportamento financeiro dos brasileiros. Somente com essa abordagem mais profunda será possível superar as barreiras que impedem um planejamento financeiro eficaz e, consequentemente, garantir um futuro mais seguro para todos.
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