A relação financeira entre a Prefeitura de Ipatinga e a Fundação São Francisco Xavier (FSFX) — mantenedora do Hospital Márcio Cunha, referência em saúde no Leste de Minas — vive seu momento mais crítico em anos. A dívida do município com a instituição, acumulada pela prestação de serviços hospitalares, já alcança R$ 43 milhões e, diante de nenhuma solução efetiva da prefeitura, pode ser judicializada.
Em entrevista à imprensa regional, o presidente da FSFX, Flaviano Ventorim, foi categórico ao afirmar que não há acordo até o momento.
“Desde julho cobramos o município por ofícios, mas a Prefeitura não dava retorno. Fomos chamados para conversar somente agora. Há uma promessa de esforço para pagamento no encontro de hoje, mas não houve previsão. Se continuarmos sem previsibilidade, podemos judicializar para assegurar a correção inflacionária.” – explica Ventorim.
Segundo o presidente da fundação, o cenário pressiona o fluxo de caixa da entidade, que mantém mais de 5.500 empregados diretos, além de centenas de profissionais indiretos e fornecedores.
“Temos custos altos e estamos mantendo todos os pagamentos em dia com muito esforço. Caso a situação seja agravada, vamos mobilizar a Prefeitura, Ministério Público e Câmara Municipal para buscar uma solução emergencial.” – argumenta o executivo da FSFX.
Flaviano Ventorim relembra que, por lei, o município tem cinco dias para repassar à FSFX os recursos vindos do Fundo Nacional de Saúde. A pedido da própria Prefeitura, esse prazo foi ampliado para 30 dias no último contrato — ainda assim, o município não tem conseguido cumprir.
O QUE ALEGA A PREFEITURA
Após a repercussão das declarações da FSFX, a Prefeitura de Ipatinga divulgou nota afirmando que houve uma reunião estratégica com a Fundação na manhã da última quarta-feira (19) para discutir o passivo e construir um cronograma de pagamentos.
O prefeito Gustavo Nunes disse que sua gestão já repassou mais de R$ 130 milhões à FSFX em 2023, sendo R$ 10 milhões somente em dezembro, e reafirmou seu compromisso de manter a oferta de serviços médicos à população.
O governo municipal argumenta que há limitações legais impostas pela Lei Orçamentária Anual, que impedem repasses acima da capacidade prevista, mesmo havendo dinheiro em caixa.
Além disso, o município afirma que ingressou com ação judicial contra o Governo de Minas para recuperar valores que, segundo Ipatinga, são de responsabilidade do Estado. Caso os recursos sejam recuperados, ajudariam a reduzir o passivo com a Fundação.
Na nota, a prefeitura ainda afirma:
“A administração municipal mantém interlocução positiva com o Governo de Minas e busca soluções que garantam a continuidade dos serviços de saúde. O objetivo é estabelecer um planejamento financeiro consistente que assegure tanto a regularização dos débitos quanto a manutenção da qualidade do atendimento à população.”
O QUE REPRESENTA A FUNDAÇÃO PARA MINAS GERAIS
A Fundação São Francisco Xavier é uma entidade filantrópica que atua desde 1969 e conta com cerca de 6.200 colaboradores. Atualmente, administra duas unidades hospitalares, sendo somente o Hospital Márcio Cunha por cerca de 70% dos atendimentos pelo SUS, em Ipatinga.
Além disso, o Hospital Márcio Cunha ou HMC – como também é conhecido – é fundamental para o Leste de Minas Gerais, por ser um centro de alta complexidade, oferecendo serviços de ponta como transplantes renais, oncologia e neurocirurgia. Ele atende mais de 1,3 milhão de pessoas em 67 municípios e funciona como referência para tratamentos que, anteriormente, exigiriam deslocamento para outras regiões.
Em 2024, o HMC se destacou como o 7º hospital em número de internações e o 3º em número de partos, via SUS no Estado de Minas Gerais. Com uma trajetória de sucesso, a unidade hospitalar mantém um modelo de excelência em gestão com foco na qualidade e segurança do paciente, sendo pioneira no país a ser acreditada em nível de excelência (ONA III), pela Organização Nacional de Acreditação (ONA). Além disso, o HMC está classificado pela revista norte-americana Newsweek entre as melhores unidades hospitalares do Brasil, sendo o 6º em Minas Gerais e 27º melhor do país.
























