Ana Gabriela Cardoso (*)
Com a franqueza que merece um diário, devo confessar já de início que talvez eu esteja experimentando uma quarentena um pouco diferente daquela que muitas pessoas estão vivendo. A pandemia veio como uma onda, que ganha altura a cada dia, mas, ainda assim, mantenho a expectativa de que ela vai se desfazer e a esperança de que seja em breve.
Enquanto isso não acontece, tenho sido, de alguma forma, envolvida por uma outra onda, também sem paralelos, de mudanças significativas no modo de trabalhar e nos desafios que se impuseram para a Comunicação. Tantas e tão complexas novidades têm deixado menos espaço do que o que eu gostaria para incríveis aventuras culinárias, lúdicas e de autoconhecimento, como tenho observado acontecer no meu entorno.
Além de trabalhar intensamente nesse novo cenário de reuniões remotas, impossibilidades de viagem e tantas outras restrições, venho dedicando tempo também para pesquisar, ler e acompanhar como a comunicação está se adaptando ao chamado “novo normal”. Como engajar pessoas que agora estão distantes, como suprir a lacuna deixada pela impossibilidade da experiência sensorial, como informar de maneira ágil e responsável em um momento que informação de qualidade também pode virar uma questão absolutamente essencial. Essas e dezenas de outras questões têm concentrado minhas atenções.
Ao longo da minha carreira profissional, sempre defendi na nossa área a importância da comunicação face a face, hoje tão comprometida nas suas práticas convencionais. Uma comunicação que agora inclui uma máscara que reduz nossas expressões faciais à praticamente a metade do que estávamos acostumados. A máscara que protege também interfere na fala. São novos desafios a serem enfrentados e hábitos que precisarão ser ressignificados.
Tenho a oportunidade de estar naquele grupo de pessoas que consegue continuar produzindo e contando com uma estrutura adequada, além do apoio da minha família. Nessas horas, penso muito nos profissionais que estão na linha de frente da batalha contra essa pandemia: médicos, enfermeiros, pesquisadores, motoristas, entregadores e centenas de outros trabalhadores que não estão tendo a oportunidade de brincar com seus filhos menores, almoçar em família, ver TV juntos e tantas outras pequenas atitudes cotidianas que, no seu conjunto, nos fazem, de fato, mais felizes.
Pela minha experiência individual, a quarentena tem sido uma mistura entre a enorme tristeza por tão imensas perdas de vidas, de condições sociais, de acesso à saúde e de privações, e os importantes aprendizados humanos e profissionais. São experiências que, certamente, vão dar origem a mudanças em todos os campos, inclusive e de forma relevante, na comunicação.
Entre tantas outras lições da pandemia, temos aprendido em escala global a importância da informação séria, responsável, ágil e transparente. Nunca antes vimos tão claramente a urgência da necessidade do acesso à saúde, à educação e à informação de qualidade, a importância da tolerância e do respeito, e a imprescindibilidade da empatia e da solidariedade.
Sigo acreditando nos sonhos e na nossa gigantesca capacidade de torná-los realidade. Acredito sinceramente que, passada a tempestade, teremos uma comunicação ainda mais relevante para as pessoas e estratégica para as empresas. Mais que isso, creio que seremos mais unidos, mais fortes, mais humanos e que, em algum momento, poderemos desfrutar de um mar de ondas mais tranquilas e acolhedoras.