Cassinha Carvalho (*)
A trágica notícia da explosão ocorrida em Beirute me atingiu, sobremaneira. Tenho um carinho muito especial pela nação e pelo povo libanês. Acredito que a admiração que nutro por aquela gente aguerrida, forte e trabalhadora, me acompanha desde a infância no Caratinga.
No final do Século XIX e início do Século XX aportaram por lá expressivas levas de imigrantes libaneses – famílias como Salim, Chálabi, Tuffick, Azzi, Calil, Lauar, dentre outras. Essa gente desbravadora nos trouxe suas habilidades múltiplas, quer seja, como hábeis comerciantes, corajosos navegadores, que enfrentaram em sua gênese, invasões diversas, sobreviveram as sangrentas guerras e, especialmente, pela coragem de singrar os mares.
É fato histórico o espetacular feito dos ancestrais dos libaneses – os fenícios -, pela odisseia que empreenderam no Século VI a.C, ao lançarem-se no mar em uma barcaça de cedro. Os fenícios cruzaram todo o Mediterrâneo, alcançaram o Atlântico pelo Estreito de Gibraltar (naquela época conhecido como Portal de Hércules). Circunavegaram a costa da África, subiram pelo Índico e regressaram ao Líbano três anos depois da partida.
Admiro essa gente pelos fatos históricos e pelo relacionamento com os descendentes que eu mantinha e mantive, quando cheguei à Ipatinga – onde vim para trabalhar e construir minha vida. Os libaneses que encontrei aqui, todos de ótima cepa: os Chain, Saliba, Salles, Salmem, seguiram firmes no propósito de seus ancestrais que se aventuraram ao deixar aquelas montanhas e vales, as florestas de Cedro e se fizeram ao mar, em direção à promissora América do Sul.
Esses imigrantes concentraram-se no Brasil e, de uma particular maneira, aqui em Minas Gerais, onde nossa colônia libanesa é a mais numerosa, até onde pude pesquisar. Recebemos essa rica influência da variada e saborosa culinária, da dança, e da arte; enfim, pela riquíssima e vasta cultura libanesa. Nossa afinidade chega aos limites da religião (tema complexo no Oriente). O Líbano tem a maior população cristã do mundo árabe.
Por tudo isso, confiante na superação desse momento crítico e doloroso, envio aos nossos irmãos de além-mar, minhas orações e a certeza de que, como sempre foi desde a antiguidade, séculos antes do nascimento do Cristo – mesmo com todas as avarias, invasões, crises e problemas – esses povos fenícios/libaneses souberam se reestruturar e seguir em frente, com fincas no trabalho árduo, na resiliência e na fé.
PS: Tenho uma irmã que casou-se com um legítimo descendente de libanês (dos Molaibs, de Teófilo Otoni) e deu-nos uma linda sobrinha, Kamily Molaib. Ela herdou a beleza, o charme e o generoso coração, comuns às mulheres libanesas.
(*) Cassinha Carvalho é advogada e vereadora pela Câmara Municipal de Ipatinga