Sérgio Moreira (*)
A atuação do Clube Atlético Mineiro em 2020 vem surpreendendo a cada partida. O time de Jorge Sampaoli segue em frente na disputa pelo título do Brasileirão, encantando a cada um dos torcedores. Entre eles há um grupo peculiar: a comunidade árabe da capital mineira.
O clube já teve três presidentes de ascendência árabe (Paulo Cury, Elias e Alexandre Kalil. Mostrando a forte influência no clube, outras famílias marcam presença: Cadar, Patrus, Moysés, Cury, Arges e Lasmar, pelo menos 10% do quadro de conselheiros possuem essa origem.
O time de futebol é o preferido tanto entre a comunidade síria e a comunidade libanesa. A ligação é histórica. Emir Cadar, ex-presidente do conselho deliberativo do clube é quem revela as origens dessa conexão. Seu pai, Antônio Cadar, foi o fundador do já extinto Sport Syrio Horizontino. Foi esse clube que revelou o talento do jogador de ascendência árabe Said Paulo Arges. Com o término do Sport Syrio, veio a mudança para o Galo e, com isso, Said levou consigo toda a torcida da comunidade sírio-libanesa da capital, que ao lado de Mário de Castro e Jairo integrou o então chamado “Trio Maldito” – sendo protagonistas do eterno 9X2 contra o rival. Na memorável partida, Said marcou três gols, Mário de Castro também fez três, assim como Jairo.
Emir Cadar, engenheiro civil especializado em construção de rodovias, realizou uma prodigiosa gestão como presidente do Conselho Deliberativo do Clube Atlético Mineiro de 2010 a 2016, tendo alcançado à frente do time, grandes realizações: a Copa Libertadores da América, em 2013; a Copa do Brasil, em 2014; a Recopa Sul-Americana, em 2014, o Torneio da Flórida, em 2016; e os Campeonatos Mineiros em 2012, 2013 e 2015. Cadar democratizou o conselho dando voz a todos. Ao deixar o cargo, ele foi homenageado com o Galo de Prata, concedido àqueles que ajudam a “engrandecer o nome do clube.”
Emir é também o Cônsul da Síria em Belo Horizonte. Ajudou a inserir na comunidade os refugiados sírios que chegavam à capital mineira. Alguns até foram contratados como colaboradores no Atlético. O padre sírio George Rateb também fez um trabalho louvável no acolhimento dessas pessoas, alojando os imigrantes em quatro apartamentos perto da Igreja Sagrado Coração de Jesus (de rito siríaco católico), na região hospitalar de BH, onde é o líder religioso. Hoje, tanto o pároco como o grupo de sírios reforçam a massa alvinegra.
Nada mais justo, pois, desde os primórdios, o Atlético sempre abraçou classes marginalizadas da cidade, dentre elas a comunidade árabe que, na época de criação do time, era vítima de preconceito.
O resultado disso é o amor que árabes e descendentes têm pelo clube. E ninguém melhor para descrever essa paixão do que o escritor Roberto Drummond: ”Ser atleticano é um querer bem. É uma ideologia. Não me perguntem se eu sou de esquerda ou de direita. Acima de tudo, sou atleticano e, nesse amor, pertenço ao maior partido político que existe. O Partido do Clube Atlético Mineiro, o PCAM, onde cabem homens, mulheres, jovens, crianças. Diante do Atlético, todos são iguais. O bancário pode tanto quanto o banqueiro, o operário vale tanto quanto o industrial. Toda manhã, quando acordo, eu rezo: Obrigado, Senhor, por me ter dado a sorte de torcer pelo Atlético”.
(*) Sérgio Moreira é empresário, mestre em Metalurgia Extrativa, MBA em Comércio Exterior e é mestrando em Negócios Internacionais. Atua como presidente da Associação Cultural Líbano Brasileira de Minas Gerais (ACLB-MG) e também é delegado Regional da Câmara de Comércio Líbano Brasileira de Minas Gerais (CCLB-MG)