No início dos anos 2000, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos era considerada a instituição mais confiável do país. Atualmente, a certeza de que uma carta ou encomenda chegará às mãos do destinatário já não existe mais.
Hoje em dia, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos é um reduto de funcionários públicos, em sua maior parte, desmotivados, mal preparados e negligentes. Os Correios acabaram se tornando um dos maiores entraves para expansão do comércio on-line no Brasil.
Quase todo mundo tem uma história de pacote perdido ou não entregue para se queixar dos Correios. A empresa já passa da hora de ser privatizada para se modernizar.
AUDITORIA MOSTROU PROBLEMAS
Um relatório elaborado por uma auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU), revela a dimensão dos problemas de logística da empresa. Até antes da pandemia, em apenas seis anos, a quantidade de indenizações pagas pela estatal por atrasos, extravios e roubos aumentou 1.054%, chegando a um prejuízo de mais de R$ 200 milhões somente com perdas de encomendas.
Os dados mostram não apenas a queda na qualidade do serviço, mas evidencia como a crise tem uma característica autofágica: acumulando perdas financeiras há muitos anos desde o início dos governos petistas no Brasil. Os Correios não têm recursos para investir na própria infraestrutura para recuperar a confiança em sua operação, conclui a autidoria.
Se destinatários e remetentes estão insatisfeitos, o mesmo acontece com os servidores da estatal. Carteiros e empregados da estatal relatam condições de trabalho cada vez mais precárias. Eles apontam três problemas principais na operação: material inadequado nos centros de distribuição, redução das linhas de transporte e falta de pessoal. Nos centros de distribuição espalhados pelo Brasil, há salas de triagem sem ventilação, goteiras sobre encomendas, falta de instrumentos de trabalho e muita desorganização.
ENTRAVE AO E-COMMERCE
Enquanto a privatização não chega, a dor de cabeça aumenta devido à desmotivação e, principalmente a negligência dos carteiros. E não adianta reclamar, nenhuma providência é tomada para correção das falhas.
Para o pequeno empresário paranaense Fernando Venâncio, sócio-administrador do e-commerce Senhor Raiz, que produz e comercializa camisetas e acessórios masculinos, o comércio eletrônico tornou-se um grande desafio.
“Nos primeiros anos de uma empresa estes desafios se tornam ainda maiores – revela o empresário.
“Acredito que, atualmente, pelo fato de termos produtos de alta qualidade e não competirmos pelo preço, mas sim pelo diferencial; a distância empresa (produto) e consumidor, inerente ao mundo on-line, acaba sendo dificultada. Para isso estamos abrindo cada vez mais parcerias com boas lojas para revenderem nossos produtos aos seus clientes”, aponta Venâncio.
“Outro desafio é a parte logística. Empresas transportadoras e principalmente os Correios têm falhado com prazos e entregas, o que acaba prejudicando imagem da nossa empresa perante o consumidor. Além disso, o custo do frete muitas vezes se torna impeditivo para o cliente finalizar a compra” – finaliza.
NEGLIGÊNCIA
Já o consumidor Antônio Saliba – residente em Ipatinga, Minas Gerais, e grande usuário do comércio eletrônico – reclama que somente neste ano teve dois problemas de entregas de suas compras pelos Correios.
“Não se sabe o porquê, mas os carteiros que fazem a rota do CEP 35.162-396, no Bairro Cidade Nobre, simulam com frequência em seu relatório que ‘não foram atendidos para fazer a entrega’. Em março comprei um medicamento e acompanhei através do próprio aplicativo dos Correios os registros das saídas para entrega. Ficava aguardando. O carteiro não depositava na caixa de correio ou chamava para ao interfone. Em seguida, o aplicativo emitia o alerta de que o carteiro não havia sido atendido.” – denuncia Antônio.
O destinatário, já de idade, reclamou na unidade de distribuição. Recebeu como resposta que “deveria buscar o produto na agência central dos Correios”, aonde enfrentou longa fila para ser atendido.
Antônio prossegue informando que o problema ocorreu novamente e da mesma forma, ao adquirir uma camiseta temática pelo e-commerce. Ele guarda os comprovantes de que, com a diferença de poucos minutos após receber um outro produto do Shopee, entregue por uma transportadora de encomendas, coincidentemente chegou a terceira notificação dos Correios através do aplicativo, informando que o “carteiro não foi atendido”.
“Pura mentira da empresa. E não adianta reclamar junto aos Correios de Ipatinga ou na Unidade de Tratamento dos Correios de Santana do Paraíso. A resposta que você recebe é sempre a mesma, ‘terá que retirar a encomenda na Unidade de Distribuição de Ipatinga’. E se prepare para enfrentar fila” – desabafa o destinatário.