O jornal Estadão comparou, em seu editorial desta quinta-feira (17), o ministro da Justiça Flávio Dino com um “animador de auditório” e afirmou que ele não compreendeu o significado de seu cargo. O periódico observou que o ministro “opina sobre tudo” e trata o Judiciário como “uma grande arena política”.
– Pelo teor de suas manifestações, Flávio Dino não entendeu o que significa ser ministro da Justiça, tampouco as responsabilidades e os limites que o cargo impõe. Trata-se de uma pasta de especial relevância institucional, com papel fundamental no funcionamento do Estado Democrático de Direito, a exigir equilíbrio e contenção do titular. (…) No entanto, Flávio Dino age como se fosse um animador de auditório. Opina sobre tudo – iniciou o veículo.
Como exemplo, o texto relembra que, na última segunda-feira (14), Dino “pôs-se a discorrer sobre as eleições em um país estrangeiro”, chamando candidatos de “monstros de extrema-direita” e “aberrações”. Também se antecipou ao desenrolar das investigações envolvendo o caso das joias, e já determinou que há “relação entre o desespero golpista e o comércio criminoso de joias milionárias” do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
– O comentário de Flávio Dino não condiz com o papel de ministro da Justiça no Estado Democrático de Direito. Existe o princípio da presunção de inocência, e o titular da pasta da Justiça deve ser o primeiro a respeitar o mandamento constitucional, sem emitir juízos com as investigações ainda em andamento – observou o jornal.
Para o Estadão, Dino vem fazendo o “oposto que seu cargo exige”, e em nada contribui para serenar os ânimos do país.
– Prejudicial em qualquer circunstância, isso é especialmente grave nos dias de hoje, quando parcela considerável da população nutre desconfianças sobre a isenção e independência do Judiciário. Em vez de contribuir para serenar os ânimos, por exemplo, cuidando para que as instituições de Estado não sejam envolvidas em questões político-partidárias, Flávio Dino parece obstinado em alimentar a equivocada impressão de que o Judiciário é uma grande arena política – criticou.
Por fim, o periódico conclui sua reflexão sugerindo que o ministro pare de fazer do Ministério da Justiça um “grande espetáculo que converte tudo o que toca em política eleitoral” e passe a trabalhar para que a Constituição seja conhecida e respeitada.