Um surto de pneumonia decorrente de infecção pela bactéria Mycoplasma pneumoniae tem acontecido no norte da China e, agora, se espalha por países da Europa, como Holanda e Dinamarca, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) e dados de órgãos de saúde destes países, reunidos e publicados pelo Centro de Pesquisa e Política de Doenças Infecciosas (CIDRAP) da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos. Crianças são as principais afetadas. As informações são do Estadão.
A Mycoplasma pneumoniae é uma bactéria comum e presente em diversos países do mundo, incluindo o Brasil. Ela leva a quadros gripais e sintomas similares aos de uma infecção causada por vírus, como influenza, coronavírus e vírus sincicial respiratório (VSR). Diferente de outras bactérias, que geralmente se espalham por contato com água, secreção, alimentos e objetos infectados, a Mycoplasma pneumoniae se propaga no ar. Por isso é tão contagiosa quanto os outros patógenos gripais.
De acordo Julio Croda, médico infectologista da Friocruz e professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), esse agente pode causar uma pneumonia bacteriana, diferente das que os médicos estão mais acostumados a tratar. “Essa bactéria normalmente provoca surto a cada um ou três anos, com aumento no número de casos, só que não na magnitude que a gente tem visto agora”, diz. “É mais comum em crianças de 5 a 12 anos, enquanto o VSR atinge principalmente as de 0 a 5”.
A OMS atribui o aumento dos casos de infecção pela bactéria à reabertura integral das escolas e à diminuição das medidas de isolamento social após o período de pandemia da covid-19. A maior ocorrência de quadros graves, representados pela pneumonia, se dá pela menor resistência criada pelas crianças nos últimos anos. Algumas não conviveram tanto com outras pessoas e crianças, além das de suas famílias, desde que nasceram e, consequentemente, tiveram pouco contato com vírus e bactérias.
A queda nas taxas de vacinação das crianças também colabora para que elas se tornem mais suscetíveis à bactéria e aos outros patógenos. Com isso, os surtos de doenças respiratórias, mais comuns em crianças, foram intensificados e tiveram seu período de ocorrência alterado. “Parte do crescimento ocorre mais cedo do que sazonalmente registrado, mas não é inesperado, dada a suspensão das restrições da covid-19, seguindo o que outros países passaram”, informou a OMS.
E NO BRASIL?
Para Julio Croda, as chances de um surto de Mycoplasma pneumoniae chegar ao Brasil são grandes. “Também tivemos a retomada das escolas, com crianças mais suscetíveis, o que nos levou a surtos do vírus sincicial respiratório, por exemplo. Então, tudo indica que podemos ver um aumento de casos do Mycoplasma pneumoniae também”.