Após um fim de semana de roubos a comércios e de violência pelo interior do país, a onda de saques a supermercados e lojas chegou à periferia de Buenos Aires, alastrando-se de maneira veloz sobre um terreno fértil de aumento da pobreza a cada nova remarcação de preços.
Durante a noite e a madrugada, 56 pessoas foram presas em mais de dez saques a supermercados, em pelo menos oito municípios ao redor de Buenos Aires. O número de presos é ínfimo diante das várias dezenas que se juntam para atacar o comércio na modalidade conhecida na Argentina como “ataque piranha”, em referência ao cardume voraz, que devora as vítimas em poucos segundos.
“Esta noite, à última hora, quando os comércios começaram a fechar, houve várias tentativas de roubos, de forma coordenada, a vários supermercados e lojas. Fazem uma maciça campanha através das redes sociais, incitando aos saques. Nos roubos, usam menores para roubar cigarros e bebidas alcoólicas”, explicou Sergio Berni, secretário de Segurança da Província de Buenos Aires.
Ao longo da madrugada, quatro helicópteros sobrevoaram os pontos mais conflituosos da área metropolitana de Buenos Aires. Em terra, grupos de apoio da polícia procuravam antecipar-se aos roubos.
Um dos saques mais violentos foi no município de Moreno. Cerca de 50 pessoas, incluindo crianças, cercaram o supermercado Conquista, que fechou as portas metálicas. Primeiro, atearam fogo num depósito de botijões de gás, ação que por pouco não transforma o saque numa tragédia. Depois, forçaram o portão de ferro até derrubá-lo. Por último, retorceram as portas metálicas. O dono do supermercado recebeu uma pedrada no rosto.
“Primeiro, roubaram bebidas alcoólicas, depois eletrodomésticos, computadores e geladeiras. Por último, os alimentos. Os que roubaram são os mesmos moradores da vizinhança que vêm aqui comprar. Chegaram a virar o rosto quando me viram”, descreveu Johana, caixa do supermercado.
SUPERMERCADOS COMO ALVO
A rede espanhola de supermercados Dia foi um dos principais alvos. Em três municípios (Escobar, Don Torcuato e José C. Paz), muitas pessoas conseguiram entrar nas filiais, embora os funcionários já tivessem fechado as portas, alertados pelos movimentos.
Nas imagens dos roubos, filmadas por moradores estupefatos, é possível ver crianças e adolescentes, carregando bebidas alcoólicas. A imensa maioria é de jovens e as mercadorias menos visadas são os alimentos.
“Em Escobar, houve seis presos, quatro deles menores entre 12 e 15 anos. Os outros dois mal passam dos 18 anos”, afirmou o prefeito de Escobar, Ariel Sujarchuck.