Por Walter Biancardine (*)
Talvez o autor destas linhas deva conceder a Pablo Marçal o benefício da empatia, entendendo suas recentes declarações como claro sintoma de uma atroz dor de cotovelo, a perpassar sua alma.
Em seu ego megalômano e ilimitado, Marçal exige – sim, o termo é este – exige, repito, que o candidato Ricardo Nunes, secundado por todos os demais personagens do espectro político da direita conservadora, peçam-lhe desculpas e assumam o compromisso de adotar pautas suas (de Marçal) como programas de governo. Segundo ele, são promessas que teria feito aos eleitores, comprometendo-se a cumpri-las vencendo ou não as eleições.
No caso, o exacerbado perdeu. Agora, pretende que outros cumpram compromissos que são seus, sob a alegação que “são compromissos da direita” – e mostrando claramente que o rapaz se enxerga como o próprio conservadorismo que se fez carne.
A vaidade megalômana, entretanto, sofre de contradições inevitáveis em sua busca da satisfação de seus egos: não contente em exigir que terceiros paguem o que ele prometeu, ameaçou – sim, ameaçou – apoiar o candidato comunista Guilherme Boulos, se suas exigências não forem atendidas.
Não fosse a disposição benevolente deste autor, já anunciada no primeiro parágrafo, e poderia concluir como confirmadas as acusações que fiz contra o mesmo: que o rapaz carece de quaisquer valores e princípios morais, maleável que é em se travestir daquilo que seu público do momento exige; que jamais foi de direita, esquerda, conservador, progressista ou o que seja – cego que está por sua ambição desmedida em ser o líder incontestável de toda uma nação, um Moisés redivivo, que conduzirá o gado verde-amarelo à terra prometida, que mana cerveja e picanha. E tal ambição explica facilmente o jamais haver apresentado quaisquer projetos concretos de governo, eis que possui apenas projetos de poder – pessoal, intransferível e, ouso concluir, vitalício.
Pouco se me dá que o mesmo, em suas habilidades marqueteiras de internet, tenha demolido jornalistas esquerdistas ou dito poucas e boas a tantas figuras decrépitas de nossa política: qualquer droga ilícita também pode proporcionar prazeres iniciais intensos mas, uma vez que seu efeito passe e a realidade retorne, sempre nos arrependeremos amargamente de nossa fraqueza.
O lado cético que tenho – velho hábito de jornalista – enxerga claramente que as máscaras caíram; que o juvenil megalômano falou demais e acabou por revelar-se, em seu âmago. Isto seria o suficiente para condenar a hipocrisia de quem afirmou haver entrado na disputa apenas “por não haver candidatos de direita” (esquecendo-se de Marina Helena) e que “não tinha pretensões políticas além disso”. O ato seguinte foi, desde já, lançar-se candidato à Presidência da República – e palmas para a sinceridade e humildade do rapaz. E aí cabe a pergunta atroz: eu não disse?
Este mesmo lado cético me adverte: Marçal é um personagem político extremamente perigoso; ambicioso e sem freios, ditatorial e absolutista se preciso for, e confiante demais em sua retórica neurolinguista, com a qual manipula seus seguidores. Alguém a ser cuidadosamente removido de nosso leque de opções, tal e qual o ovo de uma serpente.
Mas meu lado humano prefere acreditar que tudo não passa de uma baita dor de corno.