Por Walter Biancardine (*)
Este é o último artigo da trilogia escrita neste portal, para expor nossa ignorância sobre o que é, realmente, a direita conservadora e quais seriam as saídas para o impasse institucional que o país atravessa.
Conforme anunciado na publicação de ontem, trataremos hoje do mais espinhudo dos tópicos e, talvez, daquele que gere mais controvérsias, dada a ambiguidade entre poder ser nossa única salvação ou, pior, a danação definitiva da liberdade nas terras verde-amarelas: os militares.
Embora negada de maneira veemente por todo o oficialato, a doutrinação positivista é uma realidade nas casernas e a mesma reveste-se de perigosa semelhança e afinidade com diversos pontos do pensamento marxista, tornando a farda uma instituição virtualmente cega aos arreganhos da escancarada guerra cultural, praticada de maneira aberta e com sucesso absoluto, pela esquerda.
Nomes insuspeitos, como o do filósofo Olavo de Carvalho, tentaram modificar tal quadro presente na Escola Superior de Guerra mas o único resultado obtido foi a plena frustração. De nada valeram palestras, seminários ou o que seja: difícil é extirpar um “espírito”, encruado em uma instituição, desde antes da proclamação desta infeliz República.
Para piorar a situação, algumas matérias foram recentemente adicionadas à grade curricular desta formação superior, as quais refletem de maneira clara a intenção de complementar a doutrinação de Augusto Comte com o necessário tempero marxista – tarefa fácil, dada a similaridade de pensamentos já exposta. Desta maneira, temos hoje um Alto Comando “quase esquerdista”, generais positivistas prenhes de marxismo, aliados a um carreirismo crescente, que os impulsiona à adesão ideológica aos preceitos da atual ditadura jurídico-comuno-globalista – sim, uma mixórdia ideológica mas, infelizmente, verdadeira.
Para termos uma ideia mais nítida de tal infiltração, basta lembrarmo-nos do governo Jair Bolsonaro, onde o mesmo viu-se quase sem escolhas na ocupação das pastas militares. Tal fato foi sobejamente demonstrado em seus últimos dias, quando os altos oficiais – à exceção da Marinha – chegaram a ameaçá-lo de prisão, caso reagisse à explícita roubalheira das “urnas com livre-arbítrio” do TSE. Desnecessário dizer que, com a subida de Lula ao poder, o Alto Comando é, hoje, um confortável mas vergonhoso ninho vermelho.
E quais são as razões de considerarmos tal instituição como vital, em nossas pífias esperanças de recuperação da normalidade democrática e derrubada da atual ditadura? Simples, e já exposta no artigo de ontem: eleições não derrubam ditaduras. Procedimentos legais não derrubam ditaduras. Ações parlamentares não derrubam ditaduras. Protestos não derrubam ditaduras – até porque um dos componentes deste consórcio tirânico é o Poder Judiciário que, à margem de quaisquer leis, pode decretar toda e qualquer atitude nossa como ilegal, “anti-democrática” e nos condenar à cadeia.
Nenhuma ditadura cai sem sangue, lamento dizer. E é por isso que precisamos, mesmo à contragosto, dos militares. Então caberá, neste contexto, a pergunta: ora, se nenhuma ditadura cai sem sangue, por quê os militares entregaram pacificamente o poder, em 1984?
A resposta é simples mas, ao mesmo tempo, pode revestir-se – para os mais céticos – de tons “conspiranóicos”: a farda cedeu ao único poder capaz de controlá-los, dobrá-los e mantê-los sob um cabresto seguro, que é o poder dos grupos econômico-financeiros. Os mesmos industriais, banqueiros e investidores que ampararam a farda em 1964, decidiram ceder ao canto globalista das sereias, e trocaram de lado. A partir desta data, acolheram convenientemente a esquerda – já abrigada por eles desde a Constituinte de 1988.
Não houve saída ou escolha para os militares, mesmo para os ditos “linha-dura”: era ir embora ou sanções internacionais despencariam sobre o Brasil. Desnecessário dizer que o governo de José Sarney – primeiro civil pós-64 – é a prova cabal do que digo, já que em seu vergonhoso “Plano Cruzado” (congelamento total de preços, “fiscais do Sarney” e etc.) o presidente da Volkswagen do Brasil, Wolfgang Sauer, esmurrou a mesa de Sarney e disse que iria aumentar o preço de seus veículos – e assim o fez, mandando a autoridade presidencial às favas. Afinal, quem manda na bagaça?
O quê poderemos fazer, então, para tentarmos normalizar o país?
Não há saída mágica, dada as funduras que permitimos nos enterrarem. Entretanto, existe a premente necessidade de uma doutrinação ideológica das elites econômico-financeiras, provando às mesmas que o conservadorismo não prejudica seus lucros, pelo contrário – ainda que tais figuras, hoje, pouco se lixem para o dinheiro: o que eles almejam é o poder. Tais elites são as únicas com força suficiente para conduzir a pólvora militar dentro dos caminhos que desejamos, a despeito de conspirações e insubordinações claramente necessárias na farda, eis que o baixo-oficialato e as tropas já estão – sempre estiveram – do nosso lado.
Existem, entretanto, perguntas decorrentes de minha tese acima: como faremos esta doutrinação das elites? O prazo de consecução de nossos objetivos não seria longo demais? Até que ponto um futuro Presidente da República conservador (mas ainda sob o jugo do STF, tal qual Bolsonaro) poderia nos ajudar?
Para tais questões não tenho respostas nem ouso supor, entregando minhas esperanças nas mãos de uma eventual sobrevivência – e vitória – de Donald Trump nos EUA e na inesgotável estupidez diplomática do atual governo brasileiro, que eventualmente poderia nos ajudar, ainda que às custas de privações e sofrimento.
Certamente o amigo leitor não gostará do que leu, dado o desalento explícito destas linhas. Infelizmente, esta é a realidade que vejo e não mentirei, para aqueles que me prestigiam com sua leitura, oferecendo ilusões doces mas vazias.
O trabalho que temos pela frente abarcará gerações.
Vida longa aos nossos netos.