Por Walter Biancardine (*)
Creio poder falar de cadeira sobre a completa inutilidade dos pomposos e noticiados encontros, que periodicamente reúnem líderes mundiais, cuja única função é render manchetes nos jornais e oprimir os pagadores de impostos de todos os países envolvidos.
Em 1992 fui o único servidor brasileiro da Organização dos Estados Americanos (OEA) a ser designado para atuar na hoje esquecida ECO-92, que paralisou o Rio de Janeiro e chamou a atenção do mundo para o Brasil. Sim, naqueles anos loucos eu trabalhava no Corpo Diplomático e, após duas estafantes semanas de trabalho duro – duro mesmo, pois apertar a mão de gente como Fidel Castro deveria me render um adicional de insalubridade – pude constatar que protocolos e documentos foram assinados, declarações bombásticas foram feitas e a única coisa que ganhamos foi a “paranoia ambientalista”, que até hoje rende dividendos políticos aos países envolvidos.
Graças à ECO-92 tivemos de trocar nossos aparelhos de ar condicionado por outros, que usassem um gás “menos prejudicial ao meio ambiente”. Graças ao tal encontro severas leis contra a poluição automotiva – como se fábricas e indústrias não poluíssem exponencialmente mais – que amarraram motores e puseram fim a modelos adorados pelos consumidores, e chegamos ao paroxismo de proibir canudinhos de plástico “por fazerem mal aos animais” – isso sem falar no caminho plenamente pavimentado, deixado aberto para figuras oportunistas e teatrais como Greta Thunberg.
E quem pagou, com o bolso ou com o sossego, por tudo isso? Nós, o povo, eternos pagadores dos pecados dos líderes, que elegemos e sustentamos. Pagamos caro para ter apenas opressão, regras, restrições e obrigações em troca.
Ao fim e ao cabo daquele furdunço internacional meu chefe – o Embaixador Baena Soares, Secretário Geral da OEA na época – apenas murmurou para mim, no carro, entre desapontado e exausto: – “Que desperdício, meu Deus…” E completou: – “O Brasil é um país mal assombrado…”
Hoje temos em nosso país mais uma repetição de tais e eternos encontros. A reunião do G20, que a senhora Janja insiste em dizer que foi organizado em sua homenagem – “G de Janja”, diz ela em toda sua alta cultura narcísica – cobrou um gasto enorme, desproporcional a quaisquer resultados práticos obtidos (até porque não houve nenhum) e a única coisa que os cidadãos do mundo podem esperar após esta “Earth Summit” são mais leis, mais opressão, mais restrições, sacrifícios e tudo isso incensado e louvado pela grande mídia.
Para completar, ainda temos de enfrentar o oportunismo de nossa ditadura, que usa tal encontro para “aparentar democracia”, aproveitando o mesmo para divulgar estrambótica apuração da Polícia Federal – sim, a Schutzstaffel de Xandão – na qual “revela” um suposto e tenebroso esquema de (mais um) “golpe de Estado” tramado por Bolsonaro e seus asseclas militares, para matar Lula, Alkimin e Alexandre de Moraes.
Nada melhor, para nossa narco-ditadura, que a presença de líderes mundiais para divulgar as sementes de suas futuras e duríssimas ações ditatoriais, cada vez mais repressivas, e mostrar ao mundo que estão apenas “preservando a democracia” enquanto prendem, reprimem e baixam o pau no lombo de supostos criminosos, que planejariam tal assassinato.
Para nós, o G20 nada serviu. Mas para a narco-ditadura, é o sinal de largada do fechamento total do Brasil para quaisquer sopros de liberdade, e do regular funcionamento do Judiciário. E tudo isso emoldurado pelos sorrisos e complacência da maioria dos líderes mundiais – a ditadura brasileira estará, agora, endossada pelos demais países.
Enquanto isso, nossas Forças Armadas – mais uma vez caluniadas, vilipendiadas e agora acusadas – olham para tudo isso, engolem os dedos apontados pela Polícia Federal e ficam, como de praxe, quietas em seu canto.
Como disse meu antigo chefe, “o Brasil é um país mal assombrado”…