Por Walter Biancardine (*)
Sextas-feiras são, normalmente, dias de alegres “happy hours” após uma longa semana de trabalho, onde amigos reúnem-se em bares e restaurantes para colocar a conversa em dia, bem como para jogá-la fora também, em descompromissados assuntos sobre a vida alheia. Mas não esta sexta, véspera do Dia de Finados e, como tal, dia em que celebramos nossas falecidas democracia e liberdade, de saudosas lembranças.
Nas memórias de nossos entes que se foram, podemos citar a liberdade de opinarmos sem medo ou de irmos às ruas protestar contra desmandos governamentais. Também nos ocorrem os bons dias em que éramos livres para usarmos redes sociais e nelas expormos o que tínhamos de pior ou melhor. Mais que isso: sempre estarão em nossas memórias aquela mãe de criancinhas – hoje órfãs de uma genitora viva – que se encontra encarcerada por causa de um batom, ou dos sofrimentos e torturas havidos por um Filipe G. Martins ou mesmo pelo monolítico deputado Daniel Silveira, despojado de seu cargo e submetido ao suplício de não saber o término de sua pena.
Mais que isso: também nos lembramos da sepultada liberdade de parlamentares – inimputáveis por quaisquer palavras ou opiniões expostas no exercício de seus cargos – que ameaça arrastar às masmorras nomes como Gustavo Gayer ou Nikolas Ferreira.
E pior de tudo, lembramos Clezão. Morto, morto e morto pela ditadura do Judiciário vigente, pela pena omissa e inclemente de um Ministro Alexandre de Moraes, que recusou-se a permitir tratamentos e socorros médicos a um doente agonizante, que morreu à míngua e sozinho na cela.
Nem de longe vivi tais sofrimentos, limitando meus tormentos à proibição de me sustentar – já que meu canal no YouTube foi desmonetizado – e à exclusão (roubo) de 28 vídeos que lá postei, fruto de trabalhos de estudo e pesquisa, mas que de alguma maneira incomodaram o sistema. Do mesmo modo meu antigo Twitter, hoje X, excluiu três contas minhas por idêntico motivo e até mesmo o Telegram removeu a antiga conta que lá mantinha.
Sabemos do corporativismo esquerdista atual da mídia e, por isso, um jornalista e escritor como eu – claramente conservador – jamais encontraria trabalho nos grandes jornais e revistas, devendo eu louvar a coragem dos editores desta Carta de Notícias e do site europeu ContraCultura, que ousaram acolher as (assim entendidas) “heresias” por mim cometidas e escritas.
Como forma de sustento e de permanecer no combate, resolvi também escrever livros – sim, pois seria rematado atrevimento da atual ditadura promover, tal qual a Juventude Hitlerista e outros, queimas públicas e espetaculosas de livros “proscritos pelo sistema” – mas, ao que parece, as tais ditaduras não encontram freios, uma vez disparadas.
Sim, comemorei cedo demais e hoje temo as consequências das obras que já publiquei: o Ministro do Supremo Tribunal Federal, o comunista Flávio Dino, acaba de censurar quatro livros jurídicos, alegando que os mesmos contem teores de homofobia.
Vou repetir, para os incrédulos: quatro – um, dois, três, quatro – livros e, pior, trabalhos acadêmicos, jurídicos, sob a desculpa de ofenderem o sacrossanto desejo sexual de algumas pessoas por outras do mesmo sexo – uma preferência sexual bastou, para que quatro obras acadêmicas fossem proibidas de circular, de serem impressas e vendidas, em todo o território nacional. E pior: não bastasse o arbítrio, somou-o à humilhação, impondo escorchante e impagável multa pecuniária de 150 mil reais para cada um deles, em nome de supostos “danos coletivos”.
As obras proibidas foram:
. Curso Avançado de Biodireito
. Teoria e Prática do Direito Penal
. Curso Avançado de Direito do Consumidor
. Manual de Prática Trabalhista
Não disponho do nome dos autores, mas a eles empresto minha total solidariedade e apoio.
Eis porque não existem motivos para nenhum “Happy Hour” nesta sexta-feira. Em respeito a tantos direitos extintos, liberdades proibidas, bocas caladas, prisões arbitrárias e sem término, parlamentares vilipendiados e, principalmente, aos mortos – assassinados – por esta ditadura, o máximo que poderemos fazer é erguer respeitoso e silencioso brinde aos que tombaram na luta.
Não mais duvido que, em breve, tenhamos cerimônias públicas de queimas de livros proscritos – dentre eles certamente a Bíblia – promovidas pelo III Reich togado, que nos oprime e governa.
Até quando?
Depende de você.