Por Walter Biancardine (*)
Nero: assim tratarei aquele o qual “Não Se Pode Dizer o Nome” e deixando claro que, doravante, serei obrigado a abandonar quaisquer fundamentações legais ou mesmo morais (?) em seus atos, já que a única interpretação possível sobre o comportamento deste cidadão aponta diretamente para os aspectos psicológicos de uma mente sequelada, pensamentos plenos de um narcisismo doentio, paranoia persecutória e consequente fúria, incontida, dos sociopatas que creem-se deuses.
Nero derrubou Nosso Senhor Jesus Cristo de seu trono, instituiu-se “senhor do universo” em seu lugar e, por capricho e vaidade, retrocedeu ao Velho Testamento onde intentou lançar verdadeira “maldição bíblica” por sobre seus desafetos, estendendo-a não apenas às suas vítimas mas, também, a seus filhos e cônjuges – outra não pode ser a interpretação quando observamos seus avanços contra a filha adolescente do jornalista Oswaldo Eustáquio e, mais recentemente, à esposa do ex-deputado Daniel Silveira: ambas nada tem a ver ou participaram dos supostos atos daqueles perseguidos pelo doentio imperador, mas sofrem a extensão da “maldição até a sétima geração”, proferida pelo ensandecido “deus nouveau”.
Nero crê plenamente em sua onipotência: atritando-se contra Elon Musk, dono do X (Twitter) e renitente defensor da liberdade de expressão, igualmente decidiu amaldiçoar o mesmo e, não satisfeito em bloquear contas bancárias de uma empresa também de Musk – responsável por mais da metade das comunicações via satélite no Brasil – mas que nada tem a ver com a rede social, agora pretende decretar o fim deste mesmo X, utilizado inclusive por seu próprio palácio de marfim e por inúmeros órgãos públicos e estatais. Mas pouco importa, pois sua vontade é a lei.
Nero enxerga-se imparável, um deus vencedor e pouco ligou para “pequenos detalhes” legais que, por mera condescendência, fez a gentileza de cumprir. Deste modo, valeu-se do mesmo X, por ele sentenciado à morte, para enviar a fatal intimação ao seu dono – e os clamores e súplicas alheias, resmungando sobre a ilegalidade absurda de tal ato pouco mereceram sua atenção pois, como já dissemos, sua vontade é a lei, tudo usa e tudo pode.
Nero está em pleno banquete de poder, embriagado pelo mesmo e dana a ejacular seus caprichos em todas as direções, seja sentenciando à 17 anos de masmorras uma mulher que usou batom para ofendê-lo, ou prazeirosamente assistindo os ganidos de seus torturados em cárcere perpétuo, como Filipe G. Martins ou o próprio Daniel Silveira. Isso o ensandece, o poder é seu gozo e ostenta o mesmo em sua própria figura, fazendo de si um imenso símbolo fálico de toda sua indecente falta de limites.
Nero bem conhece a sedução que a onipotência exerce sobre almas fracas e covardes – sejam seus outros dez arcanjos do mal, coniventes apóstatas e terrivelmente covardes, ou mesmo por duas outras criaturas medíocres que poderiam expeli-lo de seus delírios, mas assim não o fazem pela fome de favores e benefícios, que os levam diretamente aos braços escamosos de tal Satanás tropical, que os agarra e os levarão para sua mesma danação.
Nero sabe, entretanto, que a imensa legião de escravos que mantém é a única real ameaça sobre seu reinado e, por isso, lança feitiços midiáticos para os intimidar e iludir – prazer e pavor reunidos em sua perversão, que não consegue evitar.
Nero sabe que incendiou as leis e se os escravos se revoltarem, seu fim será trágico.
Nero, porém, não receia o amanhã: ele tudo pode.
Nero teme, entretanto, sua própria cabeça.
Nero é bipolar.
Nero sabe-se louco, mas sua vontade é a lei.
Nero cairá.
Nero: eis o homem.