Por Walter Biancardine (*)
O debate modelo MMA ocorrido em São Paulo, entre os candidatos à prefeitura daquela cidade, teve como protagonistas aqueles que tudo fizeram para deste modo serem classificados: José Luis Datena e Pablo Marçal.
Pouco importa se Marçal xingou a mãe de Datena ou se este último tem traumas psicológicos relativos a determinados assuntos, o que vale notar é que tal disputa se afigura como um verdadeiro episódio do Big Brother Brasil, da Rede Globo, a nos ensinar sobre o mau caratismo dos participantes e, também, a respeito da demência congênita de grande parte da assistência – no caso, de eleitores que decidirão os rumos da maior cidade da América do Sul.
Vamos dividir tão feio episódio em partes, e a primeira delas será sobre Datena.
A apresentação de programas “mundo cão”, abordando a criminalidade em São Paulo, trouxe grande popularidade ao ex-modelo que, assim, teve sua vaidade juvenil resgatada pelos tiros e crimes que noticiava. Indeciso notório e sempre navegando nas águas de vontades fúteis, José Luis deixou sua marca na política sem jamais ter exercido qualquer cargo público, uma vez que suas candidaturas, desistências e desistências de desistir o tornaram notório bipolar em sua vaidade.
Antes da divulgada agressão, Marçal acusou novamente Datena de ser “cheirador” (de cocaína) e de assédio sexual, mas as acusações feitas pelo “coach” sobre tais supostos crimes de assédio eram falsas e já haviam sido arquivadas. Após o desentendimento, Datena afirmou que tais acusações tiveram um impacto negativo significativo em sua família, especialmente em sua sogra, que faleceu após uma série de problemas de saúde. Segundo Datena, o estresse causado pelas acusações agravou esses problemas de saúde.
Antes de passarmos à análise de Pablo Marçal, devemos perguntar: alguém, em sã consciência, enfiaria o dedo nas feridas abertas de adversário, notoriamente desequilibrado pelas mesmas? Caso sim, a única explicação plausível é a busca de destaque, fama e vitimização pelas consequências que, certamente, sofreria. E Datena não se poupou nesta mesma busca por destaque – seja ele obtido por quaisquer meios.
Vamos a Marçal: o mesmo acusa Boulos de (também) ser “cheirador”, acusa Datena de estupro, acusa Tábata de ter abandonado o pai. Onde, neste amontoado de xingamentos, se esconde a plataforma de governo de Pablo, o Marçal?
Em lugar nenhum, pois o mesmo não a tem. Seu projeto é única e exclusivamente de poder, poder pessoal, despontar-se como o “líder que ofuscará Bolsonaro e conduzirá as multidões segundo suas vontades”. E para “ofuscar” Jair Messias, o “coach” vale-se daquilo que o ex-presidente tem de mais caricatural, como seja, seu jeito desabrido de comunicar-se, com um vocabulário pouco comedido – mas que, jamais, chegou perto da enxurrada porno-caluniosa de Marçal.
Mas a turba – torcida de futebol – o idolatra. O que diriam se fosse Jair Bolsonaro a tirar fotos prestigiando a nomeação do Alexandre de Moraes, ou a discutir “planos para o Brasil” com Janones ou mesmo se aconselhando com João Dória? Nada, dopados que estão pelo feitiço neurolinguístico do “coach” ambicioso.
Em entrevista datada de 3 de novembro de 2018, publicada em jornais brasileiros, o filósofo russo Alekandr Dugin (se o leitor o desconhece, aconselho a buscar quem é o mentor de Vladmir Putin e sobre quem Olavo de Carvalho obteve fragorosa vitória filosófica) advertia que “é necessário criar uma frente anti-Bolsonaro”. Ele é a principal figura oculta, por trás de João Dória, Pablo Marçal, 08 de janeiro, Alexandre de Moraes, Pacheco, Lula – e seus filhotes Joyce Hasselmann, Alexandre Frota, Sérgio Moro, dentre outros – e todo o consórcio ditatorial que se abate sobre o Brasil nos dias de hoje. Se o leitor duvida, sugiro que busque alguma crítica de Marçal contra o Ministro Alexandre de Moraes. Caso consiga, retirarei tudo o que acima escrevi, ao expressar minhas opiniões.
Mas vamos ao fato em si, pois o mesmo prova que o eleitorado brasileiro – mais especificamente o jovem votante – parece jamais ter sabido o que é o comportamento masculino típico. Nada mais natural, uma vez que “ser homem” é algo que causa embaraços atualmente. Ou já esqueceram o filho do cantor Fábio Jr., Fiuk, se desculpando “por ser homem” em recente edição do BBB da Globo?
Ninguém nunca discutiu e trocou tabefes? Será possível que venham a xingar minha mãe e a única atitude que terei será “mover ação por danos morais”?
Existem limites – limites sociais, tácitos e pré-estabelecidos informalmente – para tudo e que, uma vez ultrapassados, são considerados claro desafio, um chamado para a briga. Isto é o que qualquer garoto de 13 anos já sabe, ao menos os de minha geração, e que não podem ser esquecidos sob a alegação de “respeitarmos a liberdade de opinião alheia”.
Sim, somos livres para dizermos ou fazermos o que quisermos, mas também devemos ter em mente o dever de arcarmos com a responsabilidade sobre as consequências – jurídicas ou, até mesmo, físicas – destes atos. Por óbvio que isto não justifica prisões ilegais, valendo-se da força coercitiva do Estado para vingar ofensas pessoais contra magistrados, ou estaríamos agindo como mafiosos que mandam seus capangas revidarem os insultos recebidos. Os limites são humanos, morais, de valores e princípios e Pablo Marçal fez pouco – talvez deliberadamente – dos mesmos. E Datena teve uma reação humana – talvez oportuna demais – diante do fato.
Vamos agora a última parte deste arrazoado que, reconheço, já vai longo demais.
A mais trágica das consequências de décadas sendo entorpecidos por novelas de TV e campeonatos de futebol talvez seja o pensamento primário e binário do brasileiro médio: o amigo é perfeito, nunca erra; já o inimigo nada faz de bom e talvez espanque a própria mãe. Este dualismo doentio é claramente visto nas opiniões e comentários do eleitorado paulistano sobre Marçal, mais especificamente – pois o mesmo exerce descaradamente a hipnose neurolinguística sobre suas vítimas. Sobre os demais, a dualidade permanece embora menos gritante; sendo este último termo bastante pertinente a tudo o que diz respeito ao “coach”: gritante, chamativo, escandaloso, teatral.
O eleitorado atualmente divide-se em times, que se agridem e segregam-se em guetos opinativos, prenhes de insultos e deboches mútuos e ressaltando inutilidades absurdas cometidas por seus candidatos, jamais preocupando-se em saber quem, de fato, são eles e o que pensam e pretendem diante da Prefeitura.
Cada um dos times arroga-se mais “conservador” ou “de direita” que o outro, sobrando deboches até sobre “olavismos”, “bolsonarismos” e outros “ismos” desumanizantes e facilitadores do linchamento moral sem nenhum escrúpulo ou medida.
Enquanto tais cegos perdem-se em campanhas pelos seus “times”, deixam de prestar atenção em outros candidatos que poderiam, de fato, trazer melhorias e esperanças à cidade. A candidata Marina Helena é uma delas – e já aviso que sequer voto em SP ou sou filiado a qualquer partido – mas sofre pela síndrome patológica do brasileiro, que só vota “em quem está na frente das pesquisas”.
Sim, o mesmo cidadão que afirma não acreditar nas pesquisas, só vota em quem as mesmas apontem encontrar-se na liderança, pasmem!
Caso tenha a “ousadia” de votar em quem perdeu, o mesmo será alvo de deboches e piadas dos amigos, pois no Brasil todos – todos! – contam em quem votaram, sendo uma informação tão pública quanto a “descontração e malemolência” tropicais nos fazem espalhar, aos quatro cantos, o valor de nossos salários e até quantas vezes vamos para a cama com uma mulher.
Um povo que trata eleições como campeonato de futebol, políticos como personagens de novela ou BBB e divulga para todos qual foi seu voto, quanto ganha por mês e até sua vida sexual, realmente não pode ser levado à sério.
Enquanto as torcidas organizadas se engalfinham, Marina Helena corre esquecida e só será lembrada após o primeiro ano de governo do inepto, escolhido como bola da vez pelo eleitorado paulistano.
Será tarde? Pouco importa, temos tempo e o Brasil é o “país do futuro”.