Por Walter Biancardine (*)
Poderia começar este artigo praguejando contra o descaso do monopólio privado da companhia de eletricidade Enel que, após deixar-me uma semana sem luz por conta de um simples disjuntor de um poste, largou a cidade de São Paulo às escuras até hoje e, não satisfeita, premiou-me com mais algumas horas sem energia elétrica neste dia 15 de outubro. Mas não falarei disso nem sobre nada que me remeta ao velho, podre e encarquilhado habitat que vivemos, povoado de decrépitos embusteiros e aproveitadores.
Não, é hora de valer-me do título da música de Flávio Venturini, composta para o grupo 14 Bis, e comentar sobre a matéria que vi hoje na Auriverde Brasil, na voz do inoxidável Alexandre Pitolli. A mesma referia-se à garota de 14 anos – uma jovem, uma linda juventude – que teria ganho um concurso de redação na cidade de Joinville, SC, com o texto que segue abaixo:
“Certa noite, ao entrar em minha sala de aula, vi num mapa-mundi, o nosso Brasil a chorar: o que houve, meu Brasil brasileiro? Perguntei-lhe!
E ele, espreguiçando-se em seu berço esplêndido, esparramado e verdejante sobre a América do Sul, respondeu chorando, com suas lágrimas amazônicas: Estou sofrendo. Vejam o que estão fazendo comigo… Antes, os meus bosques tinham mais flores e meus seios mais amores. Meu povo era heroico e os seus brados retumbantes. O sol da liberdade era mais fúlgido e brilhava no céu a todo instante. Onde anda a liberdade, onde estão os braços fortes?
Eu era a Pátria amada, idolatrada. Havia paz no futuro e glórias no passado. Nenhum filho meu fugia à luta. Eu era a terra adorada e dos filhos deste solo era a mãe gentil.
Eu era gigante pela própria natureza, que hoje devastam e queimam, sem nenhum homem de coragem que às margens plácidas de algum riachinho, tenha a coragem de gritar mais alto para libertar-me desses novos tiranos que ousam roubar o verde louro de minha flâmula.
Eu, não suportando as chorosas queixas do Brasil, fui para o jardim. Era noite e pude ver a imagem do Cruzeiro que resplandece no lábaro que o nosso país ostenta estrelado. Pensei… Conseguiremos salvar esse país sem braços fortes? Pensei mais… Quem nos devolverá a grandeza que a Pátria nos traz?
Voltei à sala, mas encontrei o mapa silencioso e mudo, como uma criança dormindo em seu berço esplêndido”.
Comovido diante do verdadeiro dom que se exibia através de tais linhas à minha frente, enviei mensagem à Auriverde pedindo encarecidamente que buscassem a autora e a pusessem diante das câmeras, para que pudéssemos conhecê-la e admirar a graça que Deus derramara sobre ela.
O desalento que senti ao enviar tal mensagem – imaginando que a mesma certamente se perderá, em meio aos seus dois milhões de seguidores Brasil à fora – se transformou em algo próximo à decepção quando, ao sentar-me para redigir estas mal-traçadas, busquei mais informações na internet e tudo o que consegui soa-me como um texto apócrifo: o nome da suposta autora jamais foi citado, e tais linhas já foram objeto de diversas postagens desde o longínquo ano de 2016 – nada recente como Pitolli pensava e mais se assemelhando a uma quase “corrente” patriótica, portanto.
Isso não apaga, entretanto, as constatações que fiz entre a emoção da audição e a decepção investigativa: o brilho é inerente à juventude. Experiência, proficiência, são os mínimos requisitos que se pode esperar de um velho, em seu ofício. A prática pode – e deve – ser adquirida com os anos e, por isso, não cabe ser admirada como um dom, apenas como fator de segurança e eficácia.
Somente a Graça Divina, que capacita os escolhidos, poderia fazer uma jovem de tenros 14 anos mostrar-se poetisa em suas prosas – mas tal jovem, aparentemente, jamais existiu.
Pouco importa. Não nos faltam exemplos de talentos e precocidades pelo Brasil, verdadeira esperança de dias melhores e cuja presença pode ser notada nesta mesma Auriverde através do jovem João Vitor Teófilo, de apenas 22 anos e recentemente desacatado pelo destempero do Pastor Silas Malafaia.
Essa linda juventude, páginas de um livro bom, deve ser admirada, louvada e incentivada por estar, tão cedo, em níveis superiores aos dos velhos e amargos profissionais como eu, meramente competentes mas sem nenhum brilho.
E só o brilho, o dom, nos faz transcender.