Por Walter Biancardine (*)
A disputa entre Pablo Marçal e Ricardo Nunes à Prefeitura de São Paulo está expondo verdades eternas que poucos conseguem aceitar e, muito menos, sabem lidar com isso.
Este senhor, Marçal – verdadeira construção de marketing e tão real quanto um holograma – tem gasto todo seu tempo em busca de holofotes e somente abre a boca ou se levanta da cadeira se for para entregar ao eleitor aquilo que ele quer ouvir ou ver, em performance artística digna de um Oscar.
Mesmo com seus perfis em redes sociais bloqueados pela ditadura vigente, Pablo – o sujo – sequer murmurou nenhuns protestos contra o expoente máximo do totalitarismo tupiniquim e, aos poucos, vamos sabendo os porquês: segundo matéria do site Metrópoles, o presidente do PRTB, Leonardo Avalanche, usou os nomes do ministro do STF, Alexandre de Moraes, do ex-presidente Michel Temer e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, na briga para assumir o controle da legenda.
Isso é o que mostra um áudio gravado por um integrante da sigla, procurado por Avalanche dias antes da eleição interna. E não ficou por aí: ainda segundo a mesma matéria, na busca por votos para se tornar presidente nacional do PRTB, Avalanche disse a dirigentes do partido ter uma relação próxima com Moraes, Temer e Pacheco. O empresário afirmou que os três estariam por trás de um movimento para colocá-lo à frente do partido e ainda alardeou ter um suposto acesso antecipado a decisões judiciais de Moraes, no TSE.
Tornam-se por demais óbvias as razões pelas quais Marçal jamais ousaria levantar a voz contra o descapilarizado cidadão, ainda mais se somarmos o fato de que a censura aos seus perfis o colocou – aos olhos maravilhados dos eleitores – como verdadeira “vítima do sistema”. Reclamar? Jamais.
Já sobre Ricardo Nunes, o mal lavado, o mesmo viu-se envolvido em uma investigação do Ministério Público de São Paulo, que desencadeou uma ampla operação contra o crime organizado, revelando vínculos entre empresas de ônibus do transporte municipal e membros do Primeiro Comando da Capital (PCC).
Segundo a reportagem da Gazeta de São Paulo, a investigação descobriu que há mais de duas décadas o PCC conseguiu infiltrar-se no setor de transporte coletivo, desde pequenas vans até grandes empresas de ônibus, que vencem licitações em diversos municípios. Desnecessário dizer que a ascensão do PCC nesse setor não teria sido possível sem o apoio de agentes públicos, incluindo políticos.
Apesar das veementes negações, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) não conseguiu explicar o repasse de mais de 800 milhões de reais, apenas em 2023, às duas empresas investigadas. Além disso, sócios e administradores dessas empresas foram condenados pela justiça e são membros do PCC.
Neste momento o eleitorado paulistano divide-se entre a obediência bovina às indicações de Jair Bolsonaro – um Nunes comunista, empurrado goela abaixo por Waldemar da Costa Neto, presidente de seu partido – ou o político fabricado em animação 3D, Marçal, como únicas alternativas para se evitar a ascensão de Guilherme Boulos à maior prefeitura da América do Sul.
Enquanto ambas as vertentes xingam-se mutuamente, em verdadeiro e infantil comportamento de torcida de futebol, a candidatura mais sensata e próxima dos tradicionais valores e princípios conservadores – Marina Helena – corre por fora, esquecida e sem maiores chances, até porque um dos piores vícios eleitorais brasileiros é só votar em quem está na frente, nas pesquisas eleitorais.
Não é preciso desejar mal ou rogar pragas a este tipo de eleitor, pois o mesmo castiga-se sozinho com as consequências de suas péssimas escolhas. O que provoca a piedade de expectadores dos estados vizinhos é saber que milhões de paulistanos, mais conscientes e que não votaram em nenhum dos dois, serão igualmente obrigados a aturar quatro anos de governo de um invasor de terras, nutrido a leite de soja e criado nos fofos carpetes da mamãe.
Ou, na melhor das hipóteses, serem governados por um sujo ou por um mal lavado.
“Non ducor, duco”: esta frase é de outra geração, que já acabou.