Por Walter Biancardine (*)
Sabe-se que corre na Câmara dos Deputados um projeto de lei visando emprestar um mínimo de parâmetros na elaboração, feitura e divulgação das pesquisas eleitorais no Brasil. Tal projeto impõe que resultados nas urnas que ultrapassem as margens de erro das mesmas sejam punidos com a suspensão do direito de realizá-las por cinco anos, incluindo igual restrição ao seu responsável técnico, entre outras medidas.
Sem entrar a fundo nos detalhes de tal projeto, o que fica claro é a constatação da poderosa influência das pesquisas no comportamento e nas decisões do eleitor médio brasileiro. Posturas quase jocosas, primárias e infantis – “só voto em quem está na frente”, para citar algumas – as quais, por várias vezes, já apontei, exibem o completo despreparo e imaturidade daqueles que, através de seu voto, decidem os destinos do país – e tal inconsequência já é admitida pelos próprios parlamentares, em Brasília.
Cabe advertir, entretanto, que o poder de tais mentalidades adolescentes e irresponsáveis pode ser multiplicado exponencialmente, se propostas como a realização de nova assembleia constituinte seguir em frente.
Não é preciso um grande esforço imaginativo para especular a espécie de constituição resultaria das cabeças de parlamentares como Tiririca, André Janones ou Romário – e que ninguém acuse este autor de exagero apocalíptico, pois foi exatamente o que se deu quando da eleição dos representantes do povo, que elaboraram nossa pífia Constituição de 1988: uma colcha socialista-parlamentarista de retalhos, adaptada na última hora para um regime presidencialista e que resultou no inominável “presidencialismo de coalisão”, ou seja, a distribuição de feudos no governo para seus apoiadores.
A infantilidade do eleitor pode ser percebida sob quaisquer aspectos, dos mais banais aos decisivos – como depositar todas as esperanças em um “salvador da pátria” (listando nomes que vão de Jair Bolsonaro a Elon Musk) e nada fazermos, nos limitando a ficar em casa aguardando o “último capítulo da novela”.
Precisamos de uma nova Constituição? De novas leis? De uma nova composição no STF? De uma total reestruturação, faxina moral e pessoal em todo o estamento burocrático?
A resposta para a totalidade das questões acima é um sonoro “sim”. Mas resta a pergunta: que tipo de pessoa escolherá os componentes – eleitos ou designados pelos eleitos – deste novo Brasil?
Como moralizar um ambiente sem uma prévia renovação de valores e princípios, por parte daqueles os quais emanam todo o poder – o povo?
Não serão brasileiros imaturos, omissos, medrosos, exibicionistas ou teleguiados que construirão o país que desejamos. Por outro lado concordará o leitor – assumindo que tenha consciência dos fatos acima expostos – que sua posição intelectual exige de você a dedicação ao ensino, conscientização e esclarecimento de todos os que estiverem ao seu redor. Mais que qualquer didática, a intolerância ao erro, à galhofa ou à omissão deve ser regra, ainda que seja ao custo de amizades.
Cabe ao autor destas mal traçadas, entretanto, a volta à realidade cotidiana e a constatação de que nenhuns – ou pouquíssimos – estarão dispostos a sacrificar seu tempo, suas imagens, círculos de amizades ou mesmo reputações (pois será xingado de “nazista” e “fascista”) em troca de um país menos cruel para seus filhos e netos.
Se este artigo tornar-se apenas uma irritante fonte de incômodos em vagas lembranças, já me darei por satisfeito: significa que atingi a consciência da pessoa, aquela inexplicável e divina certeza do que é certo e errado, dada por Deus a todos nós, em nosso nascimento.
E a missão estará cumprida.