Por Walter Biancardine (*)
Fácil é lembrar as inúmeras vezes em que, inflados pela indignação, exigimos a prisão de notórios bandidos, fraudadores, ladrões dos dinheiros públicos e mais a interminável lista das delinquências humanas, disponíveis no menu dos códigos legais.
Eu próprio, não envergonho-me em admitir, guardo ainda a revolta pela liberdade desfrutada por famosos vigaristas, outrora arrestados pela Operação Lava Jato e que, hoje, bailam descaradamente impunes diante de nossos olhos; esta frustração, entretanto, não é recente.
Em 1979, ainda pernóstico adolescente de apenas 15 anos, escrevia eu cartas indignadas aos grandes jornais – nenhuma delas publicada – e divulgava no jornalzinho da escola minha inconformidade pela anistia “ampla, geral e irrestrita” concedida pelo então Presidente da República, o general João Batista Figueiredo, aos subversivos, guerrilheiros e ladrões de banco esquerdistas, presos na virada dos anos 60 para os 70. E uma das figuras contempladas irritava-me diretamente – o senhor Leonel de Moura Brizola – por haver o mesmo se candidatado ao governo do meu estado, Rio de Janeiro, o qual saiu-se vencedor.
E esta foi minha primeira, e péssima, previsão que deu certo: em sua política comunista, o citado cidadão proibiu que a polícia fizesse incursões nos morros cariocas, cortou todo e qualquer apoio – principalmente financeiro – às forças de segurança estaduais e valia-se da grande mídia para enaltecer a bandidagem e criminalizar as polícias tal e qual assistimos ser feito hoje, ainda que por instituições ligeiramente diversas.
O resultado não poderia ser outro, e fui testemunha ocular do mesmo: a outrora “Cidade Maravilhosa” tornou-se, ela sim, uma grande favela pontilhada de “ilhas de civilização”, que eram alguns e poucos bairros.
Assisti, furioso e descrente, a instalação de grades e porteiros eletrônicos (na época ainda não haviam câmeras de vigilância) em todos os prédios, a invasão das calçadas por marginais disfarçados de mendigos – os mesmos que, a cada eleição, aumentam de número exponencialmente – travas e alarmes nos carros e mais a triste e terrível certeza de ser assaltado tão logo puséssemos os pés na rua. Esta situação atual teve origem no início dos anos 80, mas, com o “endeusamento” das esquerdas pela mídia, absolutamente nada mudou e nada foi feito. “Acostumamos”, tal como se diz, e o absurdo tornou-se rotina cotidiana.
Hoje sentimo-nos felizes e seguros em nossas casas, cercadas por grades, alarmes e câmeras de segurança nos protegendo, desde que não saiamos às ruas.
Temos o “horário mais calmo” para sair, os locais mais seguros para ir, as ruas menos perigosas para se andar e, prevenidos, deixamos apenas uns trocados na carteira para que o meliante a leve, preservando os valores maiores escondidos em cartões de débito, PIX ou demais artimanhas cibernéticas.
Somos, na verdade, o mais perfeito tipo de prisioneiro jamais imaginado por qualquer governo totalitário e absolutista: o preso que não reclama e, na verdade, gosta de sua cela – “institucionalizado”, segundo as palavras do personagem representado pelo ator norte americano Morgan Freeman, no filme “Um sonho de liberdade”.
Por outro lado – o de fora – bandidos e traficantes tem à sua disposição cada metro quadrado urbano, pelo qual pagamos escorchante IPTU, e dele desfruta ostentando, além de armas que não podemos ter, o debochado sorriso de quem sabe que venceu a batalha.
Se nada fizermos, nada exigirmos de forma contundente, não teremos perdido apenas a batalha: a guerra inteira será o merecido troféu de nossa derrota, sempre assegurada pela passividade bovina e covarde que norteia o povo brasileiro, tal como adestrado pela grande mídia ao longo de décadas.
Finalizo com a pergunta: quem, na verdade, está preso?
“Globo e você, tudo a ver”…