Por Walter Biancardine (*)
Se nada extraordinário acontecer, tenho a intenção de ser esta a última vez que tocarei no nome de Pablo Marçal. Letras, frases, linhas e páginas demais gastas com um personagem que é todo embalagem, mas oco de conteúdo.
As últimas declarações deste rapaz não escondem – ou, ao menos, nos permitem supor – ser o mesmo uma linha auxiliar do sistema, cuidadosamente preparada para arrebanhar votos da indiscutível maioria direitista e conservadora do povo brasileiro, em benefício do duradouro e velho grupo oligarca que comanda os destinos deste país desde a “redemocratização”.
Na linha cinética dos acontecimentos, podemos vê-lo jogar fora, deliberadamente, sua participação no segundo turno – admitindo urnas sem “livre arbítrio” ou, pior, talvez devido a esta mesma “vontade própria” dos aparelhos – ao exibir grosseira falsificação de laudo médico contra Guilherme Boulos. A seguir, condiciona seu apoio ao candidato de Bolsonaro a um “pedido de perdão” e à adoção de suas pautas e promessas em seu programa de governo. A intenção de elevar-se a níveis que o transformaria na “vontade popular encarnada” é clara.
Para completar, recentemente foi revelado que 45% dos eleitores de Marçal são de esquerda; por uma dessas estranhas “coincidências”, também levantou-se um movimento no X-Twitter onde estes ditos “eleitores” afirmam que votarão em Guilherme Boulos “só de raiva”. Não satisfeito com isso, o próprio “coach” prevê que Boulos deverá ganhar estas eleições, dizendo que o deputado “fala a língua do povo” e já se coloca como candidato à Presidência em 2026.
Alguém arrisca palpites sobre qual candidato as urnas mágicas escolherão, neste segundo turno?
A construção de um personagem para desbancar a liderança de Jair Bolsonaro e conduzi-la para o sistema é evidente, basta que o leitor siga a receita: Marçal tem o pré-requisito necessário para hipnotizar e encantar o público, como seja, suas habilidades neurolinguísticas e popularidade nas redes sociais. O retoque que faltava era o jeito franco e direto de Jair se comunicar, e isso Pablo prontamente adotou até que, inflado de vaidade, passou do ponto e tornou-se grosseiro e agressivo.
Na mesma trilha do “mito”, faltava firmar-se como tal e, para isso, contou com o auxílio dos tais eleitores de esquerda e inúmeros “hipnotizados”, que criaram nas redes sociais a impressão de ser Marçal um novo “catalisador de multidões”, idolatrando-o e exaltando cada suspiro ou coçada na cabeça que o mesmo eventualmente desse.
Ainda nesse rastro, em seus modos desinibidos encontra espaço para alguns gracejos, pequenas piadas, doses comedidas de humor interiorano coroado pelo simpático sotaque goiano, que encantou milhões de brasileiros em antigas edições do reality show Big Brother Brasil, exibido em vencedores como o célebre – depois controverso e, por fim, esquecido – rapaz chamado Domini.
Alguém duvidaria que se trata de um jovem bom e simples, do interior, temente à Deus e que deseja realmente mudar o Brasil para melhor, de acordo com os mais profundos valores da família?
Para completar, além da juventude, boa aparência e extroversão, possui grande proximidade com o público evangélico – e esta seria a comprovação de seu lado “conservador”. Eis aí a receita do novo “mito”, o Bolsonaro 2.0 turbo, feito via Inteligência Artificial nos laboratórios do sistema.
Creio que não há muito mais o que se discutir sobre esta criatura de laboratórios, excetuando o fato de que o sistema é paciente, sabe esperar e já o lançou como virtual candidato a Presidente do Brasil em 2026.
Que fique o alerta ao eleitor: Marçal é como uma “carne vegana”, sintético, artificial e produto de estudos e pesquisas sociológicas. Tudo o que ele faça ou diga, de hoje em diante, deve ser considerado sob este aspecto.
Caberá ao cidadão decidir se deixará seduzir por tais encantamentos químicos ou votará em seres humanos de verdade, ainda que aparentemente não tão perfeitos e irretocáveis.
Fica a lembrança: a verdade não precisa de explicações. E que seja esta a última vez em que cito o nome de tão patética e artificial criatura.