Por Walter Biancardine (*)
Atravesso alguns dias fora da internet por questões pessoais e, ao voltar, percebo que a cidade de São Paulo parece ter consolidado suas preferências em torno do nome do “coach” Pablo Marçal. Não somente esta tendência se mantém como, do mesmo modo, a ausência da exposição de programas de governo, trocadas por bordoadas e sopapos nos debates entre os candidatos, permanece e mostra uma preocupante realidade.
Estando a menos de duas semanas das eleições municipais, é preciso ser pragmático e reconhecer que não há mais tempo hábil para que a única candidatura realmente conservadora ao governo da cidade cresça e dispute, sequer, um segundo turno. Resta ao paulistano um destino semelhante ao do eleitor carioca, sempre tendo de escolher entre “o menos pior” e cravar – mesmo contrariando a recomendação (forçada, reconheço) de Jair Bolsonaro – o nome do hábil neurolinguista marqueteiro: uma aposta cega que, se Deus ajudar a terra da garoa, dará certo.
Não escondo minha preferência pela candidata Marina Helena, a única que considero exibir claramente uma plataforma conservadora de governo. Entretanto, forçoso é reconhecer a falta de condições partidárias – apoios, tempo de TV, etc. – bem como admitir o enorme poder da mídia na condução das escolhas políticas do eleitor brasileiro médio.
Sem pretender voltar a assuntos que já tanto comentei devo dizer que, hoje, temos a certeza da total ignorância ideológica e completa submissão do povo aos ditames das “pesquisas de intenção de voto”, desconsiderando por completo optar por quem não lidera as mesmas, pouco importando o que pensam tais candidatos.
Vota-se em alguém por que é “simpático”, “nos faz rir”, “diz umas verdades” e o mesmo torna-se merecedor de nosso “prêmio”. Alega o eleitor médio que nada adianta votar em planos de governo, já que nenhum deles cumpre suas promessas. Paradoxalmente porém, entrega seus destinos a um desconhecido – que igualmente pode nada cumprir – apenas por ter sido “conquistado” por ele.
Resta ao paulistano apostar na possível sobrevivência da democracia neste país e eleger, como vereadores, os nomes que verdadeiramente empunhem as bandeiras de direita e do conservadorismo, para que a Câmara tenha um número suficiente de parlamentares do nosso lado a frear eventuais excessos, deslizes ou omissões da esfinge ideológica chamada Pablo Marçal.
E que fiquem as lições para a próxima e crucial eleição, que escolherá um novo Congresso e um novo Presidente da República: mais que um pão e circo a divertir a plateia, ávida de “barracos”; mais que desacatos temerários e pessoais, desviando o foco dos planos de governo; mais que o brilho repentino de nomes sem passado, haveremos de amadurecer compreendendo que os únicos a sofrer as consequências dos desgovernos somos nós mesmos, o povo brasileiro – que paga toda esta encenação.
Chegará o dia em que não mais escolheremos nossos representantes como decidimos quais serão os vencedores de um Big Brother, premiando aqueles que mais nos agradam e divertem – vencer uma eleição não é prêmio, é encargo.
Chegará o dia em que distinguiremos claramente o que são “esquerda” e “direita”, sem ostentar o atual desprezo debochado que nutrimos por tais conceitos – pesada herança positivista do século passado, que travestiu a consciência política com as vestes de “fanatismo” e nos condenou a sermos “apolíticos” e, portanto, “chiques”.
E chegará, finalmente, o glorioso dia em que votaremos principalmente em ideias – não somente em homens.
Só então podermos pensar em reformar nosso sistema político e refazer a Constituição. Até lá, até que as forças ideológicas no Congresso e no estamento burocrático sejam realmente conservadoras, tudo não passará de um sonho apressado e temerário.
Uma última nota: tudo o que acima foi exposto, referente ao município de São Paulo, pode e deve servir de lembrete aos eleitores de todas as demais cidades do Brasil.