Por Walter Biancardine (*)
Manda a vergonha que reconheçamos o fato de que muitos impasses e problemas políticos, enfrentados pelo Brasil nos últimos tempos, provém diretamente da esquiva de indivíduos em tomarem posições ou decisões necessárias – apenas necessárias, nada mais que isso.
A tal ponto chegou nossa degradação moral que hoje, diante de fatos assim e se um homem age conforme a necessidade manda, tal ato é louvado como “coragem”. Pois nem à tal e comezinha bravura prestou-se o ministro do Supremo Tribunal Federal, Nunes Marques, ao encaminhar ao Plenário uma decisão que poderia ter tomado – dentro do regimento daquela Corte – sozinho.
Este senhor resolveu remeter ao Plenário do Supremo a ação do Novo, que pede a cassação da decisão de bloqueio do X por ferir preceitos constitucionais, como a liberdade de expressão – algo que, monocraticamente, poderia ter decidido conforme ele próprio reconhece, em seu despacho: “A controvérsia constitucional veiculada nesta arguição é sensível e dotada de especial repercussão para a ordem pública e social, de modo que reputo pertinente submetê-la à apreciação e ao pronunciamento do Plenário do Supremo Tribunal Federal”. Ou seja, “reputar pertinente” significa “preferir” – em português claro, tirar o dele da reta e evitar vitimizar-se com o arbítrio de colegas, cujo veredito já muito bem conhece, e que cassariam sua decisão.
E daí? Todo o problema reside em ter uma decisão cassada? Ou é expor publicamente suas posições e, eventualmente, desagradar os “amigos”? Não seria melhor ter sua decisão revogada mas, com isso, mostrar ao brasileiro pagador de impostos – e de seu salário e regalias – que, ao menos, tentou? Reduzido a uma decisão colegiada, como será seu voto, no Pleno?
Não fiquemos apenas neste senhor Marques, passemos a alguém muito mais importante: Jair Messias Bolsonaro.
Convocou o ex-presidente – no qual votei, voto e votarei, se apto a disputar em 2026 – manifestações na Avenida Paulista neste 7 de setembro mas, em suas declarações, manifestou recomendações que não se levasse faixas, cartazes e demais apetrechos pelo fato de existir grande possibilidade da presença de infiltrados esquerdistas na mesma.
Ora, sabemos que Bolsonaro é o alvo número 1 do consórcio que nos governa. Igualmente, temos ciência de que cada palavra e gesto seu é meticulosamente vigiado pelos espias vermelhos, em busca de algo que o incrimine e permita sua tão sonhada – por eles – prisão. Tais precauções e mesmo recomendações são necessárias, para que não se impute a ele quaisquer intenções outras que não uma simples e pacífica manifestação – e isso inclui até mesmo o tema, que em nada cita tribunais ou ministros. Pois bem, ainda assim resta a pergunta: este é um comportamento digno de um líder? De alguém que se disponha a dar sua própria vida pelo povo e país o qual jurou defender? O ato de precaução é compreensível, reconheçamos. Mas é correto? É corajoso? É o ato de um líder?
Não se honraria mais um Bolsonaro exilado nos Estados Unidos, sob pena de prisão caso permanecesse no Brasil, do que um esquivo líder tentando se comunicar por “códigos” com seus seguidores? Não criaria um constrangimento internacional muito maior – verdadeiro escândalo a revelar de vez a ditadura brasileira – seu abrigo (um ex-Presidente da República!) sob as leis e proteção de outro país? Em última análise, não poderia o sr. Jair Messias se comunicar muito mais fácil e abertamente com o povo brasileiro – chamando ditadores de ditadores e ladrões de ladrões – via redes sociais? O quê torna sua presença por aqui tão importante? Proteção aos filhos? Tratativas paralelas que desconhecemos?
Por último resta o povo – sim, nós mesmos – que comparecerá às manifestações na Avenida Paulista, dia 7 de setembro. Entenderemos as recomendações de Bolsonaro como uma “ordem literal” e nada levaremos? Nenhuma faixa, nenhum cartaz? A tal ponto chegará nossa “bovinidade” ou será, pura e simplesmente, a falta de testosterona do título deste artigo?
Se o amigo leitor tem como decisão tomada nada levar e obedecer às ordens de Jair Messias, não o criticarei pois todos temos nosso livre arbítrio. Apenas lembre-se que, como muito bem postou a repórter Fernanda Salles (do antigo e censurado Terça Livre) no X-Twitter, “o povo brasileiro tem sido mantido em banho-maria nos últimos anos com passeatas, carreatas, motociatas e comícios políticos sem ver qualquer avanço concreto em suas reivindicações. Pior ainda, os resultados obtidos vão sempre na direção oposta ao que é solicitado e suplicado”.
Por falta de atitudes incisivas, corajosas – jamais temerárias – muito do que hoje enfrentamos poderia ter sido evitado, e isso não se resume a congressistas, militares ou líderes políticos. Quem os toca adiante é o povo e somente nos expondo, indo às ruas com destemor para exigir o que é nosso, tais personagens se moverão.
É hora de dar um basta à terceirização de nossas obrigações e nos lembrarmos que a democracia é o sistema de governo que mais exige a participação do povo.
Preguiçosos, omissos e medrosos preferem ditaduras.
(*) Walter Biancardine é jornalista, analista político e escritor. Foi aluno do Seminário de Filosofia de Olavo de Carvalho, autor de três livros e trabalhou em jornais, revistas, rádios e canais de televisão na Região dos Lagos, Rio de Janeiro