Pesquisadores descobriram que aves migratórias estão utilizando embarcações como pontos de parada durante suas longas jornadas sobre os oceanos, desafiando a crença anterior de que apenas ilhas serviam como locais de descanso.
O mistério sobre onde os pássaros descansam durante suas extensas travessias oceânicas finalmente foi desvendado. Um estudo recente, conduzido pelo zoólogo Maurizio Sarà da Universidade de Palermo, revelou que navios e outras embarcações estão se tornando verdadeiros “oásis flutuantes” para aves exaustas em pleno mar.
Durante uma viagem de cruzeiro pelo Mediterrâneo em 2021, Sarà observou uma média diária de três pássaros pousando na embarcação. Esses visitantes alados permaneciam a bordo por cerca de 42 minutos, com alguns chegando a passar a noite inteira. Esta descoberta lança luz sobre um fenômeno até então pouco estudado: a “migração assistida por barco”.
Considerando o intenso tráfego marítimo no Mediterrâneo e o número astronômico de aves que cruzam o mar anualmente durante as migrações, Sarà estima que até quatro milhões de pássaros possam estar utilizando embarcações como pontos de descanso. Esta revelação sugere que um padrão semelhante possa ocorrer em outros oceanos ao redor do globo.
A importância dessa descoberta é ainda mais evidente quando se considera que, anualmente, cerca de quatro mil espécies de aves realizam migrações. Durante esses voos intercontinentais, os pássaros enfrentam longos períodos sem acesso a alimento ou água, tornando essas paradas cruciais para sua sobrevivência.
Embora as ilhas tenham sido tradicionalmente consideradas os principais pontos de repouso para aves migratórias, as embarcações parecem oferecer uma alternativa mais frequente e acessível. Esta adaptação demonstra a notável capacidade das aves de se ajustarem às mudanças em seu ambiente, aproveitando oportunidades criadas pela atividade humana.
Paralelamente a essa descoberta, cientistas do Instituto Max Planck de Comportamento Animal e da Universidade de Konstanz, na Alemanha, realizaram um estudo complementar. Utilizando tecnologia GPS, eles rastrearam a migração de cinco espécies de aves terrestres de grande porte que realizam longas travessias marítimas.
Os pesquisadores descobriram que essas aves aproveitam as correntes de vento e as elevações atmosféricas para reduzir o gasto energético durante o voo. Surpreendentemente, os pássaros chegam até mesmo a alterar suas rotas para encontrar condições atmosféricas mais favoráveis, demonstrando uma sofisticada capacidade de navegação.
No entanto, essa dependência das condições atmosféricas também traz preocupações. Elham Nourani, autor principal do estudo, alerta que as mudanças climáticas podem tornar essas aves particularmente vulneráveis, uma vez que o suporte atmosférico é essencial para que completem suas jornadas migratórias sobre os oceanos.
A revelação de que as embarcações servem como pontos de descanso para aves migratórias não apenas esclarece um mistério de longa data, mas também destaca a complexa relação entre a vida selvagem e as atividades humanas. Esta descoberta abre novas perspectivas para a conservação das aves migratórias, sugerindo que a proteção dessas espécies pode envolver não apenas a preservação de habitats terrestres e ilhas, mas também a consideração do papel involuntário que as embarcações desempenham em suas jornadas.
À medida que nossa compreensão sobre as estratégias de migração das aves se aprofunda, torna-se cada vez mais evidente a necessidade de abordagens multifacetadas para a conservação. O céu, o mar e agora até mesmo os navios se revelam como partes integrantes do intrincado quebra-cabeça da migração aviária, desafiando-nos a repensar nossas estratégias de proteção dessas incríveis viajantes do ar.