Por Natália Brito (*)
Na arquitetura, três palavras ecoam desde os tempos de Vitrúvio, o arquiteto romano que primeiro as organizou como fundamentos da boa construção: “firmitas”, “utilitas” e “venustas” — ou, em bom português, “estabilidade”, “função” e “beleza estética”. Esses pilares guiam projetos há séculos, mas há quem questione: é possível equilibrar todos? Ou precisamos escolher apenas um ou dois?
Imagine que você está planejando sua casa dos sonhos. Deseja que ela seja resistente aos anos (e às crianças), funcional para a rotina e, claro, digna de arrancar suspiros no Instagram. Parece um pedido razoável, mas, como costuma acontecer, o orçamento é limitado. É aí que entra o dilema: será que dá para ter tudo?
Firmitas: a base de tudo
Se a estabilidade e me refiro também à qualidade da construção, não estiver em primeiro lugar, não adianta investir em beleza ou funcionalidade. Afinal, ninguém quer um teto desabando no jantar em família. No entanto, apostar em uma estrutura impecável pode consumir boa parte do orçamento, deixando menos espaço para acabamentos estéticos e inovações de uso.
Utilitas: mais que apenas bonita
Uma casa que não atende às necessidades do dia a dia é uma obra desconfortável. Uma sala ampla que não comporta os móveis ou uma cozinha maravilhosa onde não se pode cozinhar com conforto são exemplos de projetos que esquecem da função.
Venustas: o toque de alma
E o que dizer da beleza? Afinal, é ela que transforma uma construção funcional em um espaço inspirador. Mas venustas, como uma diva, exige atenção. Revestimentos sofisticados e design autoral podem ser investimentos que desafiam limites financeiros.
“Tudo Tu Não Terás”?
É fácil cair na brincadeira: “Quer uma casa funcional e bonita? Esqueça a estabilidade!” ou “Quer algo resistente e funcional? A beleza ficará para a próxima reforma.” Contudo, será mesmo necessário escolher?
PROFISSIONAL CERTO FAZ A DIFERENÇA
Aqui está o segredo: a união dos três pilares não é utopia — é técnica e planejamento. Um arquiteto qualificado pode equilibrar os aspectos estruturais com soluções criativas que otimizem a funcionalidade sem abrir mão da estética. A escolha dos materiais certos, aliada ao uso inteligente de espaço e recursos, permite criar projetos que entreguem o melhor dos três mundos.
A boa arquitetura não é sobre sacrificar um pilar em detrimento de outro, mas sobre encontrar a medida certa para cada projeto, dentro das necessidades e possibilidades de quem o realiza. Portanto, ao pensar na sua próxima obra, lembre-se: com o arquiteto certo, “tudo tu não terás” pode virar um lema do passado.
(*) Natália Brito é arquiteta e professora mestre, com 15 anos de experiência na área de projetos e 12 anos dedicados à educação. Ela possui a Formação DAP (Desenvolvimento Avançado de Projetos) e é cofundadora da Arqcalc, uma startup de Precificação de Projetos. Através de plataformas digitais, mentora milhares de profissionais da Arquitetura e Design, ajudando-os a aprimorar suas práticas e gestão.