Por Edmundo Polk Fraga (*)
Em 1956, após um ano de intensas negociações, o acordo Lanari-Horikoshi foi assinado, marcando uma nova era na cooperação entre Brasil e Japão. Naquele momento, era difícil imaginar o impacto duradouro desse pacto, que pavimentaria o caminho para uma transformação econômica e cultural profunda em ambas as nações.
Do lado brasileiro, o desafio era colossal: consolidar uma infraestrutura industrial robusta e assegurar investimentos significativos do recém-criado Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE). Para o Japão, o compromisso ia além de um empreendimento financeiro em um país emergente. Tratava-se de um gesto estratégico para reafirmar sua capacidade tecnológica e superar o trauma deixado pelas bombas atômicas da Segunda Guerra Mundial.
A parceria resultou na criação da Usiminas, em Ipatinga, um marco histórico como o primeiro grande investimento externo japonês no pós-guerra. O governo japonês forneceu capital, enquanto o Grupo Nippon Steel trouxe sua expertise em tecnologia siderúrgica. Essa colaboração transformou a cidade mineira em um dos mais importantes polos industriais da América Latina, consolidando um legado de inovação e desenvolvimento sustentável.
Minha memória pessoal conecta-se profundamente a essa história. Em 1959, minha família foi a quarta a se instalar no bairro Cariru, em Ipatinga, no edifício J22A, destinado a trabalhadores brasileiros vindos de várias regiões. Nas proximidades, viviam famílias japonesas e repúblicas de trabalhadores técnicos. Foi nessa convivência multicultural que as barreiras linguísticas se dissolveram, dando lugar a amizades duradouras e uma rica troca de experiências.
Aprendi a contar em japonês, lutar judô, praticar sumô e até apreciar tofu, um alimento tradicional japonês feito de soja. A integração não se limitou às famílias; ela se expandiu para o tecido social de Ipatinga, sendo institucionalizada em 1968 com a criação da Associação Nipo-Brasileira de Ipatinga (ANBI). A entidade promove arte, cultura e tradições japonesas com dedicação até os dias atuais.
Reconhecendo essa contribuição, a Câmara Municipal de Ipatinga instituiu, em 2008, o “Dia Municipal da Imigração Japonesa”, celebrado em 18 de junho. No entanto, para transformar essa data em uma referência cultural significativa, criatividade e boa vontade precisam ser acompanhadas por incentivos estruturais e financiamento adequado.
Uma proposta viável seria a realização de um Festival de Cultura e Gastronomia Japonesa em Ipatinga, reunindo chefs renomados, aulas de culinária, apresentações artísticas e musicais. A iniciativa poderia seguir o modelo de eventos consagrados como os festivais de Tiradentes e Diamantina, tornando-se um marco cultural e turístico em Minas Gerais.
Concluo parafraseando a poetisa catarinense Larissa Tomaschewski: “Gosto de honrar a tradição, sou mineiro e tenho orgulho desse chão, levo Ipatinga e o Japão na alma e no coração!”
(*) Empresário do ramo de imóveis e fundador e ex-presidente do Kart Clube de Ipatinga