Durante a abertura da Cúpula do G20, realizada nesta segunda-feira (18), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) trouxe à tona a crise de fome no Brasil, apontando que o país enfrentava um grave cenário de insegurança alimentar quando reassumiu a presidência em 2023. Lula destacou que, em pouco mais de um ano, sua gestão teria retirado 24,5 milhões de brasileiros da extrema pobreza e reafirmou seu compromisso de retirar o Brasil do Mapa da Fome até 2026.
“Em 2014, tiramos o Brasil do Mapa da Fome. Agora, estamos trabalhando para garantir que isso aconteça novamente”, declarou o presidente, mencionando o retorno do país à lista em 2022, o que atribuiu a um “desmonte do estado de bem-estar social” nos últimos anos.
NÚMEROS DIVERGENTES
As declarações, entretanto, geraram controvérsias. Dados mais recentes do relatório O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo, publicado pela FAO e outras agências da ONU em julho de 2023, apontam que 8,4 milhões de brasileiros enfrentaram fome entre 2021 e 2023, enquanto 39,7 milhões viveram em insegurança alimentar, sendo 14,3 milhões em situação severa. Esses números são significativamente menores do que os 33 milhões de pessoas famintas mencionados por Lula.
Além disso, especialistas destacam que a FAO, citada pelo presidente, deixou de usar o chamado “Mapa da Fome” como principal referência estatística, adotando abordagens mais amplas para medir a subalimentação e a insegurança alimentar.
HISTÓRICO DE DISCURSOS E CRÍTICAS
Não é a primeira vez que Lula utiliza esses números em eventos internacionais. Em fevereiro, durante um encontro com o empresário Bill Gates, ele apresentou as mesmas estatísticas, que também foram alvo de críticas na ocasião. Especialistas alertam que discrepâncias entre dados oficiais e discursos políticos podem enfraquecer o debate sobre o combate à fome, um tema considerado urgente e multidimensional.
PANORAMA GLOBAL DA FOME
No cenário mundial, a ONU estima que a fome global tenha se estabilizado após o aumento observado durante a pandemia. Em 2023, entre 713 milhões e 757 milhões de pessoas enfrentaram insegurança alimentar severa. No Brasil, dados recentes apontam que 3,9% da população vivia em situação de desnutrição entre 2021 e 2023, enquanto 18,4% enfrentavam algum nível de insegurança alimentar.
Apesar das controvérsias, o discurso de Lula reforça o papel central da segurança alimentar em sua agenda de governo e no debate global sobre desigualdade social. No entanto, especialistas defendem que a abordagem do tema deve ser acompanhada de dados consistentes e de maior transparência, para que o Brasil possa, de fato, liderar pelo exemplo na luta contra a fome.