Um integrante do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela, Juan Carlos Delpino Boscán, emitiu um documento nesta segunda-feira (26) denunciando uma série de irregularidades no processo eleitoral realizado em 28 de julho. As acusações colocam em xeque o resultado oficial que deu vitória ao atual presidente Nicolás Maduro.
Delpino afirmou que a votação ocorreu sem grandes problemas, mas que surgiram irregularidades durante a apuração dos votos. Segundo ele, houve “descumprimentos de normas e regulamentos essenciais” nessa etapa do processo eleitoral.
Entre as principais denúncias, o membro do CNE questionou o suposto ataque hacker utilizado como justificativa para não divulgar as atas eleitorais. Delpino declarou que os resultados deveriam ter sido enviados para a justiça eleitoral imediatamente após o fechamento das urnas, o que não aconteceu devido ao alegado ataque cibernético.
O conselheiro também criticou decisões tomadas antes da eleição, como a data do pleito, o registro de candidatos e a ausência de observadores internacionais. Apenas o Carter Center acompanhou a votação, tendo posteriormente divulgado uma nota alegando fraude no processo conduzido por Caracas.
Delpino relatou ainda que no dia da eleição houve expulsão de testemunhas da oposição durante o fechamento das mesas de votação, em clara violação das normas eleitorais. Ele destacou que a transmissão dos resultados foi interrompida sem explicações convincentes, gerando mais suspeitas sobre a lisura do processo.
O membro do CNE afirmou que se opôs à exclusão de observadores internacionais, considerando sua presença crucial para garantir a transparência eleitoral. Também questionou a data escolhida para a votação, argumentando que o pleito deveria ter ocorrido em outubro para permitir um cronograma adequado de atividades e auditorias.
Por conta de todas essas irregularidades apontadas, Delpino informou que não esteve presente no ato do CNE que ratificou o resultado anunciado pela entidade, dando vitória a Maduro. Sua denúncia representa a primeira manifestação pública de um membro do órgão eleitoral venezuelano apontando problemas na eleição presidencial.
Em paralelo às acusações de Delpino, a oposição venezuelana reuniu e publicou mais de 80% das atas eleitorais, cujos resultados indicariam a vitória do candidato opositor Edmundo González Urrutia, contrariando o anúncio oficial do CNE.
As denúncias do conselheiro eleitoral adicionam mais um elemento de contestação ao já conturbado cenário político venezuelano. A legitimidade da reeleição de Maduro, que já enfrentava questionamentos internacionais, agora é colocada em dúvida também internamente por um membro do próprio órgão responsável pela condução do processo eleitoral.
A situação deve aumentar a pressão internacional sobre o governo venezuelano para que permita uma investigação independente sobre as alegações de fraude e manipulação dos resultados. Países vizinhos e organizações internacionais já haviam manifestado preocupação com a falta de transparência no processo eleitoral da Venezuela.