A inadimplência não se limita apenas a problemas financeiros, ela também pode ter sérios impactos na saúde física e mental das pessoas. De acordo com uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em parceria com a Offerwise Pesquisas, 82% dos brasileiros com contas em atraso há pelo menos três meses relataram ter sofrido efeitos adversos em sua saúde física ou mental devido à situação financeira.
A pesquisa destaca que o estresse causado pela incapacidade de pagar as contas pode desencadear uma série de problemas de saúde, como ansiedade, depressão, distúrbios do sono e até problemas cardíacos. Esses dados sublinham a necessidade de uma abordagem mais abrangente para lidar com a inadimplência, que vá além da recuperação financeira e inclua o apoio à saúde e ao bem-estar dos indivíduos afetados.
Entre as principais consequências, 66% relataram alterações no sono, 60% menos vontade de sair e socializar com outras pessoas e 51% alterações no apetite. Além disso, um percentual relevante admite que desconta a ansiedade no vício como cigarro, comida ou álcool (37%) e nas compras impulsivas (26%).
A pesquisa mostra ainda que 97% dos entrevistados sofreram efeitos negativos com a inadimplência, sendo que 84% ficaram preocupados, 74% sentiram-se ansiosos, 65% estressados ou irritados, 64% angustiados e 64% envergonhados. Em praticamente todos as emoções investigadas, as mulheres têm destaque.
“A inadimplência traz impactos tanto no âmbito financeiro, mas também na saúde emocional e física das pessoas. É importante que o consumidor que esteja nesta situação procure ajuda de amigos e familiares. Negociar dívidas e encontrar soluções demanda equilíbrio”, destaca o presidente da CNDL, José César da Costa.
PADRÃO DE VIDA AFETADO PELAS DÍVIDAS
De acordo com o levantamento, 88% dos inadimplentes relataram terem sofrido o impacto das dívidas no padrão de vida. Apenas 10% afirmam que o padrão de vida não foi alterado.
Por causa das dívidas em atraso, 38% têm evitado comprar roupas e calçados, 37% começaram a anotar todos os ganhos e gastos, 36% evitam sair com pessoas que gostam de gastar e incentivá-las a fazer compras e 34% evitam fazer compras a prazo.
A maioria dos consumidores endividados (70%) afirmaram que tentaram tomar algum tipo de crédito no último ano, sendo que 53% pretendiam pagar dívidas e 23% comprar algo. Por outro lado, 30% não tentaram, principalmente as classes C/D/E.
Entre os que tentaram pegar crédito, 75% conseguiram, sendo as modalidades mais utilizadas o empréstimo (39%), cartão de crédito que já possuíam (21%) e limite do cheque especial (15%). Mas 24% não obtiveram liberação.
ALTO NÍVEL DE PREOCUPAÇÃO FRENTE ÀS DÍVIDAS
Da mesma maneira que as emoções podem impulsionar a gastos excessivos e/ou impensados, a inadimplência também gera impactos emocionais negativos nos consumidores.
Seis em cada dez inadimplentes (66%) dizem ter um nível de preocupação alto ou muito alto frente às dívidas em atraso há mais de 3 meses, enquanto 19% têm um nível médio e 12% estão pouco ou muito pouco preocupados.
Questionados sobre o maior temor frente as dívidas, 34% receiam não conseguir pagar as contas em atraso, 10% serem considerados desonestos pelas pessoas e 9% ter que baixar o padrão de vida para pagar dívidas.
“Muitas pessoas em situação de endividamento buscam no momento de desespero alternativas que podem piorar ainda mais a situação financeira. O grande número de ofertas de jogos de aposta online e de empréstimos que prometem dinheiro rápido podem fazer com que o consumidor entre em um círculo vicioso de dívidas, tornando a situação ainda pior do que já estava”, explica a especialista em finanças da CNDL, Merula Borges.
QUEDA DE PRODUTIVIDADE NO TRABALHO
As dívidas em atraso também podem ter impacto na dimensão profissional e social dos inadimplentes. Mais da metade dos entrevistados (56%) afirmaram que as dívidas afetaram as relações sociais, sendo que 48% afirmam ter ficado mais irritados e intolerantes com as pessoas próximas e 39% têm sido mais descuidadas com o bem-estar da família.
Em relação ao trabalho. 57% dos endividados relataram ocorrências no âmbito profissional após a inadimplência, sendo que 43% têm ficado mais desatentos ou improdutivos, 37% têm produzido menos e 35% perdem a paciência com os colegas.