Por Walter Biancardine (*)
Segundo notícias publicadas na grande mídia, uma ordem religiosa está construindo um santuário para Lúcifer, em Gravataí, na Região Metropolitana de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. O espaço deve ser inaugurado na próxima terça-feira, dia 13 de agosto – data escolhida por motivos óbvios – e ostentará uma estátua de mais de 5 metros, representando a suposta divindade.
De acordo com o Mestre Lukas de Bará da Rua, representante da Nova Ordem de Lúcifer na Terra – a “ordem religiosa” responsável – este será o maior santuário, no Brasil, dedicado ao demônio. O templo será palco de rituais de ‘demoniolatria’ e práticas de alta magia negra, “em conformidade com os princípios da instituição”, declarou o mesmo nas redes sociais.
Tatá Hélio de Astaroth, um dos fundadores do santuário, afirmou que nenhum recurso público foi utilizado na construção do espaço, e sua declaração visou responder dúvidas e preocupações de parte da comunidade local e das autoridades.
Segundo matéria publicada n’O Antagonista, a reação dos moradores de Gravataí foi mista. Nos comentários das redes sociais, algumas pessoas destacaram que o santuário é um desrespeito às suas crenças. “Chegamos ao fim dos tempos”, escreveu um usuário. “Isso é um desrespeito. Quem disse que nós concordamos com um santuário demoníaco aqui na cidade?”, questionou uma moradora de Gravataí.
Por outro lado, alguns comentários defendiam o santuário e a liberdade religiosa de seus criadores: “ninguém precisa aceitar seguir o mesmo caminho, mas respeitar a escolha do próximo é fundamental,” defendeu um usuário. “Qual a dificuldade de respeitar uma religião diferente da sua? Qual a dificuldade de ficarem quietos, sem julgamentos às religiões diferentes da de vocês?”, escreveu uma seguidora e publicou a revista O Antagonista.
Pois é justamente o ponto frisado pelo último comentário, favorável ao culto do demônio e que questiona “qual seria a dificuldade em se respeitar uma religião diferente”, que abordo neste artigo.
Sua liberdade termina quando começa a prejudicar o próximo
Coincidentemente escrevi, em meu artigo de ontem publicado neste mesmo espaço, que “vejo como opressor todo aquele que exclui o meu pensar, meu intelecto, minhas opiniões, conclusões e crenças do conceito de ‘liberdade’ (…).”
Entretanto, adverti: “Quando uma realidade conflitante e prejudicial torna-se um consenso na sociedade, expressar nossos julgamentos é parte igual e preponderante desta liberdade inerente (…)”.
E arrematei: “Apenas um comportamento danoso ao bando, à matilha, ao grupo, pode justificar e promover sanções ao infrator, seja através de sua expulsão do meio (animais) ou – em nossas normas jurídicas – sua retirada compulsória do convívio em sociedade.”
A cada dia torna-se mais evidente a utilização – hipócrita e oportunista – do conceito de “liberdade de crença” ou de “ideologia” para disseminar pensamentos e praticar ações claramente danosas e destrutivas à sociedade estabelecida. Em nome da “liberdade religiosa” devemos aceitar, impassíveis, a religião “Rasta” e seus adeptos, consumindo maconha apenas “porque assim sua religião determina”? Os mais velhos se lembrarão da infame seita do Reverendo Jim Jones, pastor e fundador do Templo Popular, que, se valendo de suas crenças, promoveu o suicídio coletivo de centenas de fiéis, chocando o mundo nos anos 70. Agora, em nome desta mesma “liberdade”, advoga-se e tenta-se impor naturalidade ao satanismo – e sequer toco nas suposições que fariam sacrifícios humanos – o qual, em sua gênese, adota princípios e valores diametralmente opostos aos vigentes em toda e qualquer civilização ocidental, sempre fundamentada nas bases judaico-cristãs. E tal defesa aponta, de maneira evidente, na completa destruição do modo de vida atual – algo tão óbvio que envergonho-me de lembrar, o leitor que me perdoe.
O Diabo e a esquerda
Por certo que esta “naturalização” do demônio – uma analogia religiosa ao pensamento da Escola de Frankfurt e sua “destruição total de tudo o que existe” – tem suas raízes nestes mesmos abismos ideológicos. Há que se naturalizar o satanismo, o sacrifício (suposto) humano, a destruição dos valores morais vigentes para que, profundamente imbuídos de crenças espirituais, o fiel não só aceite como, de modo ativo, participe das iniciativas políticas – sempre à esquerda – que tem o mesmo propósito. Nada mais pertinente acrescentar que uma pessoa assume completa convicção que seus atos são absolutamente certos, se os mesmos são justificáveis por sua fé.
E assim enxergamos claramente o oportunismo que tais “religiosos” se valem, amparados por princípios que eles mesmos combatem: a plena liberdade de crença, instituída por uma sociedade a qual repudiam. A similaridade podemos encontrar na Venezuela, onde um ditador chega ao poder através das eleições e, uma vez consolidado em sua cadeira, assume o real horror genético pela voz do povo e cancela – ou frauda – as mesmas.
É neste ponto que, penso eu, a liberdade cessa: não há como negar que a mesma está sendo utilizada como ferramenta por aqueles que desejam, ao fim e ao cabo, suprimi-la via política, religiosa ou ambas. O dano é coletivo, a sociedade sofre com seus efeitos e arca com seus custos – eventualmente com a própria vida.
Cabe dizer, entretanto, que é necessário algum nível intelectual, por menor que seja, para se discutir seriamente este assunto ou o mesmo dará ensejo para que satanistas e esquerdistas – gêmeos univitelinos – usem a eterna e cúmplice grande mídia para acusar de opressão aqueles que apenas desejam não viver um holocausto social e, em última análise, salvar suas próprias vidas.
O tema parece, a princípio, pequeno. Caberá ao leitor, entretanto, avaliar sua verdadeira, terrível profundidade e alcance, respondendo a pergunta exibida no início deste artigo: “Qual o problema em se respeitar a religião dos outros”, ainda que ela vise subverter e destruir a sociedade e nossos valores?
E acrescento: “Qual o problema em se respeitar a ideologia dos outros”, ainda que tenha a mesma finalidade destrutiva, acrescida do fato de já haver matado mais de 120 milhões de seres humanos, em sua torpe história?
Responda e conclua.
E que Deus nos ajude.