Por Walter Biancardine (*)
Dâmocles foi um cortesão que invejava abertamente a vida de luxo, regalias e privilégios do rei Dionísio I, de Siracusa. Um dia, este rei o convidou a passar um dia sendo ele e desfrutando de tudo o que ambicionava.
Pois bem, ao fartar-se em portentoso banquete, Dâmocles percebeu que no teto, por sobre sua cabeça, apenas um fio fino segurava enorme espada a qual, se caísse, o degolaria imediatamente.
Ciente dos riscos iminentes, da fragilidade e do quão provisório e passageiro este mesmo poder cercado de luxo pode ser, Dâmocles entendeu o recado e voltou para seu lugar.
Tal é o papel que a grande mídia – bem como acéfalos ainda detentores do poder de falar – se prestam, quando endossam e louvam a usurpação legislativa cometida pelo STF, bem como sua inegável exibição de poder ditatorial e despótico.
A deficiência cognitiva de uma Folha de São Paulo, Estado de São Paulo, O Globo, CNN, GloboNews e mesmo parvos em carreira solo como um Reynaldo Azevedo, fez com que se colocassem, sem nenhuma vergonha ou se darem conta de seu suicídio profissional, em posição idêntica ao do infame Dâmocles. Esqueceram que a história pode ser adulterada, mas não mudada, e que ao longo dos séculos, o fim inevitável de quem assim procedeu foi sofrer, invariavelmente e em sua própria pele, os mesmos arbítrios déspotas que procuraram louvar no passado. E a hora deles chegará.
Por outro lado, a fome cega da fúria togada tornou, com tal “decreto”, inviável a presença de quaisquer redes sociais norte-americanas no Brasil, pois seu país de origem não permite que tais empresas – ainda que baseadas em solo estrangeiro – violem os princípios básicos legais daquela nação.
Deste modo o X (Twitter), Meta (Facebook, Instagram, WhatsApp e outros) ou mesmo a poderosa Google se verão em posição conflitante com seu país de origem e – pior – sem que jamais censurem ninguém, pois as ordens virão diretamente de Brasília e eles apenas levarão a culpa – testas de ferro do despotismo institucional.
As plataformas digitais há muito superaram a mídia tradicional no “share” publicitário – por isso a dependência cada vez maior de tevês e jornais das verbas estatais. Se tais redes digitais saírem do país, a ilusão de que os anunciantes se voltarão para os meios tradicionais será vã e de curta duração: o público aboliu a TV aberta, pelo fato da absoluta maioria de seus canais dedicarem-se apenas à doutrinação, e logo os anunciantes deixarão de gastar seu dinheiro com algo que não dá retorno.
E aí será a consolidação deste pesadelo anunciado: a mídia tradicional começará a ser sangrada via censura, perda de patrocínios, de nomes famosos e gemerá sob o peso cada vez maior dos lustrosos sapatos italianos daquela “Corte”.
Resta saber se o povo brasileiro, amplamente acostumado a engolir tudo calado, aceitará mais este estupro ou se correrá – feliz – para algum “FaceBras”, “InstaBras” ou “XBrasil” instituído sob as rédeas dos togados.
Por óbvio toda a segunda parte deste artigo são apenas hipóteses, sonhos.
Mas os Dâmocles continuam se revelando.