Somente alienados ou aqueles que buscam, voluntariamente, não enxergar a realidade poderão alegar surpresa nos atos subsequentes à eventual eleição de Tarcísio de Freitas, para a Presidência da República.
Sua inegável competência administrativa à parte – e que será o ponto focal de sua administração, trazendo talvez uma vida menos difícil para o povo – o fato é que, em termos de liberdade de expressão, garantias individuais e usurpação do Legislativo pelo Supremo Tribunal Federal, nada será feito. E este é o acordo da “terceira via”.
A “ameaça” chamada Jair Bolsonaro já está neutralizada, seja pela sua irreversível inelegibilidade ou por sua fatídica condição física, causada pelo atentado esquerdista que quase o vitimou. Ainda que o ex-presidente apontasse algum outro candidato de sua escolha – filhos, esposa, seja quem for – o mesmo igualmente seria barrado pelas ferozes e onipotentes garras do STF.
Abro aqui um parêntese para especular se, em algum momento, Bolsonaro apontaria Tarcísio como seu candidato: melhor que não, pois se assim proceder, demonstraria publicamente que se rendeu aos acordos da terceira via e do “Centrão”.
Arrisco uma previsão, a qual meus leitores poderão me cobrar, ao fim do mandato de Tarcísio: a situação econômica do país melhorará, talvez tenhamos até uma diminuição significativa nos índices de desemprego, a inflação será reduzida e algumas tentativas de realinhamento com os Estados Unidos – tímidas – poderão, eventualmente, ser feitas.
Mas nem uma palha sequer será movida para revogar o controle do Judiciário sobre a internet e as plataformas digitais; as quais serão verdadeiras “testas de ferro” de Alexandre de Moraes e sua sanha aleatória e caprichosa sobre quem censurar, banir, multar ou prender: ele determinará tais ações em “off” e as plataformas ficarão caladas, obedecendo e passando a imagem de estarem, simplesmente, praticando uma temerosa e preventiva “autocensura”.
Deste modo, o quadro que teremos ao longo do quadriênio tarcísico será de um aparente progresso material, em contraponto às mais tenebrosas e opressoras medidas de cerceamento de quaisquer vozes e opiniões contrárias ao jugo do verdadeiro Poder: a ditadura do Judiciário, onde Tarcísio será apenas um gerente, um administrador que certamente cuidará bem do negócio, mas sem se intrometer nas idiossincrasias dos patrões togados. E para o povo em geral, o povão, isso basta.
Perguntará o leitor: e se Bolsonaro pudesse concorrer, faria algo diferente?
Eu respondo, desalentado, que não. Eleições, promulgações de emendas constitucionais, nova Constituição ou mesmo novas leis – nada disso é capaz de derrubar uma ditadura e quem nisto acreditar e assim intentar, sentirá na própria pele sua destituição do cargo e, mesmo, eventual prisão.
Restam as Forças Armadas, mas a cúpula da mesma já está prometida em casamento ao Supremo, tendo inclusive recebido polpudo dote matrimonial. Assim, igualmente, nada fará.
Restam-nos um amontoado de coronéis, pulverizados ao longo de todo o país e que, dificilmente, terão condições de se reunirem e articularem qualquer espécie de reação – além de estarem, no fundo de suas consciências, cometendo verdadeira “heresia” contra os dogmas militares de disciplina e subordinação.
Motins fardados, igualmente, estão fora de questão.
Restam os motins paisanos e a esperança de sermos secundados por poucos e eventuais alucinados de farda.
Mas aí já entramos no terreno dos sonhos.