Sob pressão da Justiça e às vésperas de uma decisão crucial do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) vendeu parte de sua participação na Usiminas. A operação movimentou R$ 263,3 milhões e reduziu a fatia da CSN de 12,91% para 7,92% na concorrente. A compradora é a Globe Investimentos, ligada ao grupo J&F, da família Batista, dona da JBS.
A venda ocorre em um momento decisivo para o setor siderúrgico brasileiro. A disputa acionária entre CSN e Usiminas, que se arrasta há anos, ganhou novo fôlego após decisão do Tribunal Regional Federal da 6ª Região (TRF-6), que ordenou o cumprimento imediato de uma determinação do Cade feita ainda em 2014. Na época, o órgão antitruste exigiu que a CSN reduzisse sua participação na Usiminas para menos de 5%, com o objetivo de evitar conflito de interesses e garantir a livre concorrência no mercado.
A medida desta quinta-feira, embora ainda não atinja o limite determinado pelo Cade, representa um recuo de Benjamin Steinbruch, presidente da CSN, em meio ao cerco judicial. Na última semana, a Justiça Federal e o Ministério Público Federal (MPF) apontaram omissão por parte do Cade, chegando a alertar os conselheiros do órgão sobre possível investigação criminal por desobediência, caso a decisão judicial continuasse sendo descumprida.
A entrada da J&F, grupo que tem ampliado investimentos no setor de mineração, adiciona um novo componente à disputa societária. A holding da família Batista controla empresas como a JBS e, recentemente, a Lhg Mining, voltada à extração mineral. Ainda não está claro qual será a atuação do grupo na Usiminas, mas a movimentação sugere o fortalecimento da presença da J&F em segmentos estratégicos da indústria nacional.
IMPORTÂNCIA REGIONAL
Com sede em Ipatinga, Minas Gerais, a Usiminas tem papel central no desenvolvimento econômico do Vale do Aço. É uma das principais empregadoras da região e mantém uma cadeia de fornecedores e prestadores de serviços que sustenta milhares de empregos diretos e indiretos. Alterações no controle societário da companhia, portanto, geram grande repercussão local e são acompanhadas com atenção por autoridades, trabalhadores e empresários da região.
A próxima reunião do Cade, marcada para a próxima quarta-feira, deve definir os rumos desse embate. A expectativa é de que os conselheiros avaliem se a venda feita pela CSN é suficiente ou se outras medidas deverão ser tomadas para o cumprimento integral da decisão de 2014.
A disputa entre CSN e Usiminas é considerada uma das maiores batalhas societárias em curso no Brasil. A tensão entre os grupos Steinbruch e Ternium, controladora da Usiminas, ganhou notoriedade após a resolução do impasse em torno da Eldorado Celulose — outra empresa cuja totalidade das ações acabou nas mãos da família Batista.
Com o novo movimento, o setor siderúrgico nacional, e especialmente o Vale do Aço, assiste a uma reconfiguração de forças, cujos efeitos devem se estender nos próximos anos.
























