Em nova gravação obtida com exclusividade pela revista Veja, o tenente-coronel Mauro Cid contestou o conteúdo de sua delação premiada à Polícia Federal (PF). O ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro afirma, em áudio registrado no primeiro semestre de 2024, que jamais utilizou a palavra “golpe” durante seus depoimentos.
A gravação revela um Cid indignado com a forma como suas declarações foram registradas pelos investigadores. “Eu não falei uma vez a palavra golpe”, repete enfaticamente no áudio, demonstrando irritação com o que considera distorções em seus relatos. O militar questiona especificamente a inclusão desse termo em transcrições oficiais de sua colaboração.
O episódio marca mais um capítulo controverso na delação do ex-ajudante de ordens. Em setembro de 2023, outras gravações já haviam revelado críticas de Cid ao processo investigativo, quando afirmou que a PF tinha “uma narrativa pronta”. A situação chegou a comprometer seu acordo de colaboração, levando-o inclusive a uma nova prisão determinada pelo ministro Alexandre de Moraes.
A contradição entre as diferentes versões apresentadas por Cid ganha ainda mais relevância diante da recente divulgação de seu primeiro interrogatório pelo colunista Elio Gaspari. Nos registros oficiais, consta que Bolsonaro trabalhava com duas hipóteses para permanecer no poder, incluindo a possibilidade de um “golpe de Estado” com apoio das Forças Armadas.
Os depoimentos e vídeos dos interrogatórios permanecem sob sigilo no Supremo Tribunal Federal, impedindo uma verificação completa das alegações do delator. Quando questionado oficialmente sobre suas declarações contraditórias, Cid classificou as conversas gravadas como meros “desabafos”.