O prestigiado jornal francês Libération, principal veículo da esquerda intelectual do país, publicou um duro editorial criticando a concessão do título de doutor honoris causa ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pela Universidade Paris-VIII. A homenagem, entregue nesta sexta-feira (6), gerou “surpresa e tristeza” entre os editores do periódico.
O editorial, intitulado “Não é possível hoje conceder um doutorado honoris causa a Lula, próximo demais de Putin”, questiona a postura ambígua do presidente brasileiro em relação ao conflito na Ucrânia. O jornal destaca especialmente a presença de Lula no desfile militar de 9 de maio na Praça Vermelha, em Moscou, ao lado de líderes considerados autoritários como Vladimir Putin e Xi Jinping.
Fundado por Jean-Paul Sartre e Serge July em 1973, o Libération representa uma vertente da esquerda europeia que observa com preocupação os rumos da política externa brasileira. Para o jornal, nem mesmo a defesa do multilateralismo ou do Sul Global justifica certas posições diplomáticas do atual governo brasileiro.
Embora reconheça o passado de Lula como símbolo da resistência democrática, a publicação francesa argumenta que o contexto internacional atual torna a concessão do título “altamente contestável”. O editorial sugere que a universidade poderia ter escolhido outra personalidade brasileira, seja do meio político, intelectual ou artístico, que gerasse maior consenso na sociedade francesa.
A crítica do Libération reflete um crescente mal-estar entre setores progressistas europeus em relação às posições diplomáticas do governo brasileiro, especialmente no que diz respeito às suas alianças internacionais e ao posicionamento sobre conflitos globais. O episódio evidencia também o descompasso entre diferentes visões de esquerda no cenário mundial.