Por Natália Brito (*)
O Brasil marca presença na 19ª Bienal de Arquitetura de Veneza com a exposição (RE)INVENÇÃO, inaugurada em maio e aberta ao público até novembro. A mostra ocupa o Pavilhão do Brasil e tem curadoria do grupo Plano Coletivo, formado pelos arquitetos Luciana Saboia, Eder Alencar e Matheus Seco. A proposta é provocar um olhar crítico sobre como o país pode se reinventar a partir de suas raízes, equilibrando tradição e inovação.
A primeira parte da exposição leva o visitante a refletir sobre as infraestruturas amazônicas milenares, resultado de pesquisas arqueológicas que revelam como povos indígenas moldavam o território há mais de dez mil anos. Esses sistemas ancestrais mostram que arquitetura e paisagem sempre puderam conviver em harmonia, a partir de soluções simples, inteligentes e sustentáveis.
Em contraponto, o segundo ato da mostra traz práticas contemporâneas que buscam alternativas para o futuro urbano. São projetos que valorizam o reaproveitamento de materiais, o uso de espécies nativas no paisagismo e estratégias de adaptação ao clima, sempre com foco no coletivo e na inclusão social.
O trabalho brasileiro dialoga diretamente com o tema proposto pelo curador-geral Carlo Ratti para esta edição da Bienal: “Intelligens. Natural. Artificial. Collective.”. O pavilhão mostra como diferentes formas de inteligência — a natural, a coletiva e a técnica — podem se complementar na criação de espaços mais equilibrados e resilientes.
Ao recuperar saberes tradicionais e combiná-los a soluções atuais, o Brasil reforça a ideia de que inovação arquitetônica não se limita à tecnologia, mas envolve também memória, cultura e pertencimento.
A montagem da exposição também carrega um manifesto: os materiais escolhidos — como cabos de aço, madeira laminada e pedras — podem ser reutilizados ou reciclados após o fim da Bienal. Essa decisão reforça a coerência entre discurso e prática, mostrando que a arquitetura deve pensar não apenas no impacto estético, mas também no ciclo de vida de cada obra.
A presença do Brasil em Veneza reafirma o papel do país no debate internacional sobre arquitetura e urbanismo. Depois de décadas marcado pelo modernismo de Niemeyer e Lúcio Costa, o país mostra agora uma nova narrativa, mais conectada à sustentabilidade ambiental e à diversidade cultural.
Com (RE)INVENÇÃO, o Brasil não apenas participa de um dos eventos mais prestigiados do setor, mas lança um convite ao mundo: olhar para a Amazônia e para as cidades brasileiras como laboratórios vivos de soluções para os desafios globais.
























