Por Natália Brito (*)
Poucos elementos arquitetônicos carregam tanta identidade quanto o cobogó. Criado no Brasil no final dos anos 1920, ele nasceu para solucionar um dilema comum nas construções tropicais: como ventilar e iluminar os ambientes sem abrir mão da privacidade? Inspirado no muxarabi árabe, o bloco vazado — batizado a partir das iniciais de Coimbra, Boeckmann e Góes, seus idealizadores — tornou-se símbolo de uma arquitetura que alia funcionalidade e beleza.
Quase um século depois, o cobogó retorna ao centro das atenções. Em um momento em que sustentabilidade e conforto ambiental guiam projetos, ele se revela uma solução simples e eficiente. A luz natural atravessa suas aberturas, criando desenhos que mudam ao longo do dia, enquanto o ar circula sem barreiras, reduzindo a necessidade de climatização artificial. Essa combinação de estética e eficiência energética faz dele um aliado em construções mais inteligentes.
A variedade de materiais disponíveis ampliou ainda mais suas possibilidades. Se no passado predominavam concreto e cerâmica, hoje surgem versões em madeira, alumínio, vidro e até resinas translúcidas. Cada material oferece um efeito diferente: a cerâmica traz rusticidade e resistência, o alumínio agrega leveza e modernidade, enquanto a resina permite jogos de luz que transformam o ambiente em cenário dinâmico. Essa diversidade, no entanto, exige planejamento. Escolher o modelo errado pode comprometer o desempenho esperado.
Profissionais de arquitetura alertam que a função do cobogó deve orientar sua escolha. Quando o objetivo é filtrar luz e ar em varandas e áreas de serviço, modelos com vãos maiores são os mais indicados. Em espaços internos, peças com desenho mais fechado podem atuar como divisórias, criando privacidade sem bloquear totalmente a iluminação. Também é preciso considerar a orientação solar e o clima: materiais resistentes a raios UV e umidade são indispensáveis em áreas expostas.
Outro aspecto que vem ganhando destaque é a manutenção. Apesar da durabilidade, o cobogó precisa de cuidados para preservar sua beleza e integridade. Em áreas externas, recomenda-se aplicar resinas impermeabilizantes e, no caso da madeira, tratamentos periódicos contra intempéries. Essa atenção garante que o elemento mantenha suas características originais por muitos anos.
Mais do que um recurso estético, o cobogó representa uma filosofia de projeto. Ele resgata valores da arquitetura brasileira, ao mesmo tempo em que se adapta às exigências atuais de conforto e sustentabilidade. Em construções residenciais ou comerciais, transforma-se em protagonista silencioso, moldando a luz e o ar que atravessam o espaço.
Hoje, quando buscamos ambientes mais saudáveis e conectados com a natureza, o cobogó se mostra atual e necessário. Ao integrar tradição, inovação e eficiência, ele prova que soluções inteligentes não envelhecem — apenas se reinventam. Talvez esteja aí a sua verdadeira força: permitir que, através de um simples bloco vazado, a arquitetura respire.
























