Por Natália Brito (*)
Sempre acreditei que a arquitetura não é apenas sobre construir espaços, mas sobre desenhar experiências de vida. E, ao longo da minha trajetória, percebi que essa visão se confirma de forma ainda mais clara quando falamos de saúde mental.
Quem nunca entrou em um ambiente e sentiu, quase sem perceber, uma sensação de calma, aconchego ou até de ansiedade? Isso acontece porque os espaços não são neutros. Eles nos afetam o tempo todo: pela luz, pelas cores, pela ventilação, pelos sons, pela forma como nos acolhem ou nos expulsam.
É aí que entra a responsabilidade do arquiteto. Não basta pensar em estética ou em metros quadrados bem distribuídos. É preciso entender a vida que vai acontecer ali dentro: os rituais, os encontros, as pausas necessárias. Uma cozinha pode ser apenas lugar de preparo de refeições — ou pode ser o coração da casa, onde memórias afetivas são construídas.
A neuroarquitetura já comprovou cientificamente o que sentimos na pele: espaços iluminados, integrados à natureza e com fluxos harmônicos reduzem a ansiedade e melhoram a qualidade de vida. Mas, para mim, mais do que ciência, isso é sensibilidade. É traduzir a essência de cada pessoa em ambientes que acolhem corpo e alma.
Quando projeto, gosto de pensar que estou ajudando alguém a viver melhor — não apenas a morar. Um quarto bem pensado pode trazer descanso verdadeiro; uma varanda pode ser um refúgio contra os ruídos da cidade; até um simples canto de leitura pode se tornar espaço de reencontro consigo mesmo.
A saúde mental é uma pauta urgente, e a arquitetura pode ser parte da solução. Cabe a nós, arquitetos, olharmos além da função e da estética para criar atmosferas que realmente transformem. Porque, no fim das contas, não vivemos em casas ou escritórios: vivemos em sensações que esses lugares despertam.
E a pergunta que deixo é: os espaços que você habita hoje estão ajudando a equilibrar sua mente ou estão, silenciosamente, te adoecendo?
























