Por Edmundo Polk Fraga (*)
Se o professor e escritor brasileiro Júlio César de Mello e Souza (falecido em 1974), mais conhecido pelo pseudônimo Malba Tahan, autor de “O Homem que Calculava”, estivesse vivo hoje, provavelmente ficaria entristecido ao avaliar o nível educacional dos jovens brasileiros entre 8 e 14 anos. Crítico fervoroso do ensino baseado no uso mecânico de fórmulas e defensor da valorização do raciocínio, Tahan certamente lamentaria a dificuldade de nossos jovens em dominar conceitos básicos de matemática.
Do ensino infantil à pós-graduação, o sistema educacional brasileiro enfrenta desafios históricos, que parecem se agravar ano após ano. Quando se trata de matemática, a situação é ainda mais alarmante. Dados comparativos internacionais deixam claro que estamos entre os países com os piores desempenhos. O último levantamento do teste internacional TIMSS (Estudo de Tendências Internacionais de Matemática e Ciências), realizado em 2023 e aplicado a estudantes do 4º ao 8º ano do ensino fundamental em 72 países, reforça essa constatação.
COMPARAÇÃO DA MÉDIA DE PROFICIÊNCIA – 2023
Ensino Fundamental da Matemática
4° ano / 8° ano
Média internacional TIMSS – 503 / 478
Média Brasil – 400 / 378
Fonte: Inep, com base em EIA
No exame de matemática para alunos do 4º ano, o Brasil ocupou a 55ª posição entre 58 nações, ficando atrás de países como Irã e Uzbequistão. Esses números revelam fragilidades profundas na capacidade do sistema educacional de preparar os jovens para desafios que demandam raciocínio lógico e habilidades matemáticas fundamentais.
Contudo, o problema não se limita às estatísticas. A baixa proficiência matemática é reflexo de questões estruturais crônicas: currículos defasados, formação insuficiente de professores, carência de investimentos em infraestrutura e recursos pedagógicos, além de um modelo de ensino que privilegia a memorização e o mecanicismo em detrimento da compreensão conceitual e do pensamento crítico. Essas mesmas críticas, aliás, já eram feitas por Malba Tahan em sua época.
Se ainda estivesse entre nós, é provável que Tahan defendesse uma revolução educacional fundamentada em criatividade e humanidade. Para ele, a matemática deveria ser mais do que números e fórmulas; deveria ser uma ferramenta prazerosa e prática, ensinada de forma lúdica e instigante, por meio de histórias, desafios e situações do cotidiano que despertassem a curiosidade e o entusiasmo dos estudantes.
O Brasil precisa urgentemente repensar suas prioridades educacionais. A melhoria nos rankings internacionais é importante, mas o objetivo maior deve ser preparar os jovens para um futuro em que o domínio da matemática será essencial para a ciência, a tecnologia e a inovação. Para alcançar esse objetivo, é indispensável investir em políticas públicas de longo prazo que priorizem a formação docente, modernizem o currículo e promovam métodos de ensino mais interativos e dinâmicos.