Marcelo Libânio (*)
Será também como um homem que, tendo de viajar, reuniu seus servos e lhes confiou seus bens. A um deu cinco talentos; a outro, dois; e a outro, um, segundo a capacidade de cada um. Depois partiu. Mas o que recebeu apenas um foi cavar a terra e escondeu o dinheiro de seu senhor.”(Mateus 25,14-15.18)
Na época de Cristo, um talento equivalia a cerca de seis mil denários. Era um meio de pagamento então usado. Com o tempo, à medida que as interpretações foram se aprofundando, a palavra “talento” passou a ser compreendida também como dons e habilidades que Deus nos concede. E a ideia é justamente essa: o que fazemos com os nossos talentos?
Na parábola, aquele que multiplicava seus talentos agradava mais ao Senhor. E em nosso dia a dia? Também temos diversos meios de pagamento. No entanto, ainda há quem prefira “esconder” do governo parte do que recebe, evitando usar meios eletrônicos. O problema é que essas pessoas continuam movimentando o sistema bancário: compram, depositam, aplicam, adquirem bens que não condizem com o que declaram… até que, um dia, a malha fina bate à porta. Como diz um grande consultor, advogado e contador — meu amigo José Júnior Lima: “o molho sai mais caro que o frango.”
Mas o maior problema nem é esse. É que, ao evitar os meios eletrônicos, que empreende deixa de ampliar seu negócio. Fica preso aos meios tradicionais — dinheiro, cheques e promissórias — e acaba perdendo clientes por não aceitar os chamados Instrumentos Eletrônicos de Pagamento (IEP).
Os IEPs incluem cartões de débito/crédito, boletos de cobrança, débito em conta, DOC, TED e o já conhecido PIX — que permite transferências e pagamentos instantâneos, em qualquer dia e horário. Está se tornando cada vez mais comum também o pagamento via celular, o mobile payment. Aqui no Brasil, esse serviço já é oferecido pelas principais operadoras e, diferente da maioria dos IEPs, não exige conta bancária.
“Mas Marcelo, o problema é a taxa!” — Sim, existe uma taxa na maioria desses meios de pagamentos digitais. Mas qual o problema, se você conquista mais clientes? E a maioria dessas taxas nem é tão salgada quanto parece. Claro que é possível repassar esse custo ao cliente. Você talvez ganhe um pouco menos por venda, mas ganha mercado em relação à concorrência que ainda vive no século passado.
Com o aumento da violência, o uso de meios eletrônicos cresce, principalmente em compras maiores ou por pessoas com maior poder aquisitivo. Segundo o Banco Central, mesmo que 69% dos brasileiros ainda usem o dinheiro como forma de pagamento, esse uso se concentra nas compras de menor valor e entre pessoas de menor renda. Isso não quer dizer que esse público use apenas dinheiro.
O uso de cheques, por exemplo, despencou: desde 1995, houve uma queda de 96% na quantidade de cheques compensados. Ainda assim, em algumas regiões ou situações específicas, ele ainda é utilizado — especialmente em transações maiores ou onde o acesso aos meios digitais é limitado.
Hoje, o Pix já é o meio de pagamento mais usado no Brasil, seguido pelos cartões de débito e crédito. As carteiras digitais e os pagamentos por aproximação também têm crescido rapidamente.
Portanto, cada empresa deve avaliar quais são as principais formas de pagamento que irá aceitar, considerando as taxas e custos envolvidos. E um detalhe importante: separe as finanças da pessoa física e da pessoa jurídica. Isso ajuda a manter o controle financeiro e garante que o ativo circulante — o sangue da sua empresa — continue fluindo.
Por isso, multiplique os talentos da sua empresa e deixe de ser dinossauro, para que ela não caia em extinção. Não enterre as oportunidades!























