Marcelo Saraiva Guimarães Libanio (*)
É nítido que há uma falha grave no combate ao narcotráfico brasileiro. Não que o crime não deva ser combatido — muito pelo contrário. Mas quando a última opção se torna a primeira, algo está muito errado.
O presidente salvadorenho Nayib Bukele, por exemplo, acabou com as facções através de um sistema firme e implacável contra o crime organizado que perdurava há décadas. Aqui no Brasil, morre um e surgem dois criminosos. Sessenta e quatro mortes confirmadas até ontem, na megaoperação no Complexo do Alemão e no Complexo da Penha, no Rio, mas ainda há muitos corpos a serem encontrados e contabilizados.
Os críticos que apareciam há três anos atrás sumiram. O silêncio agora fala mais alto que os tiros.
Não quero comentar muito sobre os críticos, até porque a tragédia fala por si só. Quero falar sobre o que está por trás disso tudo.
Quero falar sobre políticos como Tiego Raimundo dos Santos Silva, o “TH Joias”, deputado do MDB, preso por intermediar armas para a facção Comando Vermelho.
Quero falar também sobre Lucinha, deputada estadual do PSD, investigada por envolvimento com milícias no Rio de Janeiro — partido este que hoje compõe a base de apoio do governo federal.
Entre diversos outros que, mesmo ligados de forma indireta — por meio da corrupção governamental, da falta de políticas de humanização e socialização das favelas —, mantêm civis reféns de traficantes, assim como faz o Hamas na Faixa de Gaza.
Em 2023, o STF anulou a apreensão de 695 quilos de cocaína por falta de mandado judicial, e os policiais foram punidos, com a droga devolvida ao local onde fora apreendida. Pessoas presas na Lava Jato, como os irmãos Odebrecht, voltaram à cena do crime, juntamente com outros ex-presidiários “descondenados”. Há políticos ligados diretamente a assassinatos.
Alguém ainda tem dúvidas de que já romperam a barreira que os separava do narcotráfico direto ou indireto?
O próprio presidente da República já se articulou com narco-presidentes como Evo Morales e Nicolás Maduro.
No Foro de São Paulo, declarou abertamente ter estado com chefes do narcotráfico colombiano, como Raúl Reyes.
Esses casos isolados, quando somados, revelam algo muito mais profundo: a criminalidade começa dentro do próprio Estado brasileiro. Quando políticos se associam a facções, quando advogados, assessores e familiares de parlamentares têm relações com criminosos, o que temos não é apenas corrupção — é a fusão entre o poder e o crime.
Enquanto isso, os jovens favelados morrem como peças descartáveis de um tabuleiro viciado, onde a última opção de combate ao crime se tornou a principal e a primeira. Não me alegro com a morte de ninguém — nem de policiais, nem de jovens — mesmo os que escolheram o caminho errado.
Mas, nas camadas mais altas, aqueles que deveriam combater o crime são justamente quem o alimenta — e, no máximo, cumprem penas simbólicas. É por isso que o problema nunca acaba.
Porque o combate não é apenas contra o tráfico — é contra a estrutura política que o sustenta. A favela é só o palco visível; o verdadeiro poder está nos bastidores.
A corrupção que desvia verba de escolas, hospitais, moradia e oportunidades é a mesma que financia o tráfico de armas, o narcotráfico e as milícias. É um sistema que se retroalimenta. Um governo conivente com isso, por omissão ou interesse, perde sua legitimidade moral.
Por isso, digo sem medo: enquanto houver políticos protegendo criminosos, o sangue continuará escorrendo pelas ladeiras.
A guerra que o Brasil precisa travar não é nas favelas — é nos gabinetes.
Temos de parar de acreditar que bandido pode ser presidente.
(*) Marcelo Saraiva Guimarães Libanio é consultor desde 2015 e professor de Administração, com atuação nas áreas de inovação, produtividade e educação empreendedora. Foi Agente Local de Inovação do Ministério da Economia e Sebrae Minas (2020–2023) e Analista do Sebrae Espírito Santo (2023–2024), desenvolvendo projetos voltados à competitividade e gestão de pequenas empresas.
























