Em meio à tensão diplomática com os Estados Unidos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quinta-feira (17) que “não é um gringo que vai dar ordem a este presidente da República”. A declaração foi uma resposta direta ao presidente norte-americano Donald Trump e ocorreu durante discurso no 60º Congresso da União Nacional dos Estudantes (Conune), realizado na Universidade Federal de Goiás (UFG), em Goiânia.
O comentário de Lula veio após Trump anunciar uma sobretaxa sobre produtos brasileiros, prevista para entrar em vigor a partir de 1º de agosto. A medida foi justificada pelo republicano como uma retaliação aos processos judiciais enfrentados por Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal (STF), que, segundo ele, violam a liberdade de expressão no Brasil.
Em fala improvisada para estudantes, Lula criticou o tom das ameaças comerciais de Trump e fez referência à sua trajetória no movimento sindical. “Tenho certeza que o presidente dos Estados Unidos jamais negociou 10% do que eu negociei na vida”, afirmou.
O presidente também rechaçou a declaração atribuída a Trump de que, caso Bolsonaro não fosse libertado, os EUA aplicariam tarifas de 50% sobre produtos brasileiros. “Vamos responder da forma mais civilizada possível, como um democrata responde”, disse.
REAÇÃO INSTITUCIONAL
Desde o anúncio da sobretaxa, o governo brasileiro tem buscado minimizar o impacto da medida e manter o diálogo com os setores econômicos mais afetados. Segundo interlocutores do Palácio do Planalto, uma retaliação na mesma proporção não está descartada, mas é considerada arriscada para a economia nacional.
O vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin, liderou reuniões com representantes do agronegócio e da indústria entre terça (15) e quarta-feira (16), na tentativa de construir alternativas à crise comercial. Novos encontros devem ocorrer nos próximos dias.
Além das articulações internas, o governo enviou uma carta de protesto formal à administração americana, criticando a postura do ex-presidente norte-americano e cobrando explicações pelas medidas adotadas.
CRÍTICAS
Durante o evento, Lula também criticou duramente Jair Bolsonaro e o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, que tem apoiado publicamente as decisões de Trump. Na mesma quinta-feira, Bolsonaro evitou comentar a possível influência que exerceu sobre o republicano e atribuiu ao governo atual a responsabilidade pela crise diplomática. Ele agradeceu a Deus pela eleição de Trump e acusou Lula de comprometer as relações com os Estados Unidos.
AMBIENTE POLÍTICO E ESTUDANTIL
O clima no Conune era de forte mobilização. Estudantes entoaram gritos de protesto contra Trump e Bolsonaro, com palavras de ordem como “sem anistia e sem perdão, eu quero ver Bolsonaro na prisão”, além de manifestações em defesa da soberania latino-americana.
Participaram do evento ministros do alto escalão do governo federal, como Rui Costa (Casa Civil), Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Márcio Macêdo (Secretaria-Geral), Camilo Santana (Educação), Luciana Santos (Ciência e Tecnologia) e Margareth Menezes (Cultura). Eles reforçaram pautas do governo, como a defesa de políticas tributárias mais justas e o fortalecimento da democracia.
Do lado de fora do auditório, houve registros pontuais de confronto entre participantes do congresso e apoiadores do ex-presidente Bolsonaro, mas sem maiores incidentes.
























