O ex-diretor de Governança do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Alexandre Guimarães, admitiu nessa segunda-feira (27), durante depoimento à CPMI que investiga fraudes contra aposentados e pensionistas, ter mantido negócios com Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS” — apontado pela Polícia Federal (PF) como chefe de um esquema que movimentou milhões em recursos ilícitos.
Segundo as investigações, Guimarães teria recebido mais de R$ 2 milhões em transferências de empresas controladas por “Careca”, por meio da Vênus Consultoria, da qual é proprietário. As transações envolveriam também as empresas Brasília Consultoria e Prospect, registradas em nome do acusado.
Durante a oitiva, parlamentares destacaram que o esquema segue um padrão já identificado pela PF: a criação de empresas de fachada para repassar dinheiro e simular contratos de prestação de serviços. O relator, senador Alfredo Gaspar (União-AL), questionou o ex-diretor sobre o vínculo financeiro com o grupo e a origem dos pagamentos.
Guimarães alegou que os recursos recebidos se referem a serviços de educação financeira prestados à Brasília Consultoria. “Foram 336 serviços devidamente registrados. Eu abri a empresa para atender à demanda da Brasília”, afirmou o economista, negando irregularidades.
RELAÇÕES SUSPEITAS
O ex-diretor reconheceu que Rubens Oliveira Costa, apontado como operador financeiro do “Careca”, o auxiliou na abertura da Vênus Consultoria e indicou o contador da empresa, Alexandre Caetano — o mesmo profissional que atuava para as empresas do esquema. A coincidência causou estranhamento entre os senadores.
“Um homem com o currículo do senhor aceitar ajuda do operador do chefe da organização criminosa para abrir uma empresa é, no mínimo, curioso”, observou o presidente da CPMI, senador Carlos Viana (Podemos-MG).
Parlamentares também apontaram indícios de enriquecimento rápido de Guimarães, com base em suas declarações de Imposto de Renda. A senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS) afirmou que o ex-diretor apresentou “evolução patrimonial do dia para a noite” e criticou o fato de ele não ter apresentado o contrato que comprovaria os serviços alegados.
INDICAÇÕES POLÍTICAS E TRAJETÓRIA
Guimarães trabalhou no INSS entre 2017 e 2019 e retornou ao órgão em 2021, no governo Bolsonaro, indicado para a Diretoria de Governança. Disse que as nomeações ocorreram após envio de currículos e que não mantém relações políticas diretas.
O relator da CPMI, no entanto, questionou o fato de o economista ter sido indicado em diferentes momentos por parlamentares ligados ao mesmo partido, o PSC, levantando suspeitas de influência política na ocupação dos cargos.
ESQUEMA BILIONÁRIO
A CPMI e a Polícia Federal apuram um esquema que teria desviado mais de R$ 6 bilhões de aposentadorias e pensões por meio de associações e empresas de fachada. Os recursos eram descontados indevidamente dos benefícios, sem autorização dos segurados.
O presidente da comissão, Carlos Viana, afirmou que a apuração “avança para alcançar todos os envolvidos”. “A cada testemunha que mente, a verdade aparece mais forte. Ninguém está acima do povo”, disse o senador.
Guimarães negou participação nas fraudes e afirmou que não tinha ingerência sobre o setor de benefícios do INSS. “Minha diretoria cuidava apenas da governança administrativa”, declarou.
























